A Brazilian Journal of Otorhinolaryngology publicou um artigo muito relevante clinicamente escrito por Mehel et al., intitulado “Resultados clínicos iniciais da utilização de radiofrequência e lateralização das conchas nasais inferiores combinadas à septoplastia”.1 Gostaríamos de expressar algumas preocupações sobre as imprecisões científicas do artigo e contribuir para a fundamentação clínica do tema investigado.
Mehel et al. sugerem que tanto a radiofrequência quanto a lateralização apresentam resultados semelhantes em relação ao alívio da obstrução nasal e que o método de intervenção deve ser selecionado a critério do paciente e do(s) cirurgião(s).
Em primeiro lugar, é preciso enfatizar que a cirurgia dos distúrbios das conchas nasais deve sempre suceder um tratamento clínico insatisfatório. Provavelmente foi o que aconteceu, mas isso não foi relatado no artigo e os leitores menos experientes podem ficar confusos.
Após a decisão pela opção cirúrgica, devemos considerar os fatores etiológicos da obstrução nasal. Doenças distintas, do septo nasal, columela e válvula nasal implicarão diferentes alterações da concha com consequentes resultados diferentes. Somado a isso, alguns tipos de desvios septais tenderão a predispor a uma maior ocorrência de sinusite, o que implica desfechos clínicos diversos.2 Esperaríamos que os autores tivessem classificado e comparado esses fatores entre os grupos de radiofrequência e lateralização de modo que esse viés tão grande pudesse ter sido controlado.
Após o controle desses vieses, a técnica escolhida para tratar as conchas inferiores consideraria não apenas as conchas, mas também as características do meato inferior e da parede medial do seio maxilar. Além disso, Mehel et al. não parecem diferenciar a concha óssea inferior da mucosa da concha inferior. Por exemplo, um paciente com o osso do corneto nasal deslocado mais medialmente sem uma hipertrofia significativa da mucosa tem mais probabilidade de obter um benefício maior da lateralização do que da ablação por radiofrequência. Portanto, a comparação da secção do meato nasal inferior e do volume da concha nasal inferior deve ser considerada antes do planejamento cirúrgico. Por outro lado, se a parede medial do seio maxilar estiver mais vertical e/ou houver uma hipertrofia maior da mucosa da concha inferior, a radiofrequência seria o método com melhores resultados.
Por fim, e como os autores oportunamente lembraram, a lateralização da concha inferior é menos onerosa que a radiofrequência. Por que não usar as duas técnicas? Acreditamos que deveria haver um terceiro grupo no estudo, que incluiria pacientes que fariam tanto a radiofrequência quanto a lateralização da concha inferior.
Conflitos de interesseOs autores declaram não haver conflitos de interesse.
Como citar este artigo: Ribeiro JC, Gonçalves J, Carneiro J. Systematically addressing nasal inferior turbinate surgical options. Braz J Otorhinolaryngol. 2021;87:639.