Compartilhar
Informação da revista
Vol. 85. Núm. 2.
Páginas 213-221 (Março - Abril 2019)
Compartilhar
Compartilhar
Baixar PDF
Mais opções do artigo
Visitas
5136
Vol. 85. Núm. 2.
Páginas 213-221 (Março - Abril 2019)
Artigo original
Open Access
Are computed tomography 3D measurements of the upper airways in mouth‐breathing children in agreement with the ENT clinical diagnosis of obstruction?
Medidas obtidas por tomografia computadorizada em 3D das vias aéreas superiores em crianças com respiração bucal estão de acordo com o diagnóstico clínico‐otorrinolaringológico de obstrução?
Visitas
5136
Bruno César Ladeira Vidigala, Carolina Morsani Mordentea, Paula Loureiro Cheiba, Flávio Ricardo Manzib, Letícia Paiva Francoc,
Autor para correspondência
leticiafranco@uol.com.br

Autor para correspondência.
, Helena Maria Gonçalves Beckerd, Bernardo Quiroga Soukib
a Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC‐Minas), Programa de Pós‐Graduação em Odontologia, Belo Horizonte, MG, Brasil
b Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC‐Minas), Odontologia, Belo Horizonte, MG, Brasil
c Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Hospital das Clínicas, Ambulatório de Respirador Oral, Belo Horizonte, MG, Brasil
d Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Faculdade de Medicina, Hospital das Clínicas, Ambulatório de Respirador Oral, Belo Horizonte, MG, Brasil
Este item recebeu

Under a Creative Commons license
Informação do artigo
Resume
Texto Completo
Bibliografia
Baixar PDF
Estatísticas
Figuras (6)
Mostrar maisMostrar menos
Tabelas (3)
Tabela 1. Parâmetros cranianos usados na construção dos limites anatômicos da cavidade nasal
Tabela 2. Parâmetros cranianos usados na construção dos limites anatômicos da nasofaringe
Tabela 3. Parâmetros cranianos usados na construção dos limites anatômicos da orofaringe
Mostrar maisMostrar menos
Abstract
Introduction

Imaging studies have hystorically been used to support the clinical otorhinolaryngological evaluation of the upper respiratory tract for the diagnosis of obstructive causes of oral breathing.

Objective

The objective of this study was to compare 3D volumetric measurements of nasal cavity, nasopharynx and oropharynx of obstructed mouth‐breathing children with measurements of non‐obstructed mouth‐breathing children.

Methods

This retrospective study included 25 mouth‐breathing children aged 5–9 years evaluated by otorhinolaryngological clinical examination, flexible nasoendoscopy and full‐head multi‐slice computed tomography. Tomographic volumetric measurements and dichotomic otorhinolaryngological diagnosis (obstructed vs. non‐obstructed) in three anatomical regions (the nasal cavity, nasopharynx and oropharynx) were compared and correlated. An independent sample t‐test was used to assess the association between the 3D measurements of the upper airways and the otorhinolaryngological diagnosis of obstruction in the three anatomical regions. Inter‐ and intra‐observer intraclass correlation coefficients were used to evaluate the reliability of the 3D measurements.

Results

The intra‐class correlation coefficients ranged from 0.97 to 0.99. An association was found between turbinate hypertrophy and nasal cavity volume reduction (p<0.05) and between adenoid hyperplasia and nasopharynx volume reduction (p<0.001). No association was found between palatine tonsil hyperplasia and oropharynx volume reduction.

Conclusions

(1) The nasal cavity volume was reduced when hypertrophic turbinates were diagnosed; (2) the nasopharynx was reduced when adenoid hyperplasia was diagnosed; and (3) the oropharynx volume of mouth‐breathing children with tonsil hyperplasia was similar to that of non‐obstructed mouth‐breathing children. The adoption of the actual anatomy of the various compartments of the upper airway is an improvement to the evaluation method.

Keywords:
Tomography
Mouth breathing
Nasal cavity
Oropharynx
Nasopharynx
Resumo
Introdução

O exame clínico otorrinolaringológico da via aérea superior tem sido historicamente feito com a ajuda de imagens radiográficas para diagnosticar causas obstrutivas da respiração bucal.

Objetivo

O objetivo deste estudo foi comparar as medidas volumétricas em 3D da cavidade nasal, nasofaringe e orofaringe entre crianças com respiração bucal e obstrução respiratória e crianças respiradoras bucais sem obstrução respiratória.

Método

Estudo retrospectivo que inclui 25 crianças respiradoras bucais de 5 a 9 anos. As crianças foram avaliadas por exame clínico otorrinolaringológico, nasofibroscopia flexível e tomografia computadorizada multi‐slice. Medidas volumétricas obtidas tomograficamente de três regiões anatômicas (cavidade nasal, nasofaringe e orofaringe) foram correlacionadas e comparadas com diagnóstico dicotômico otorrinolaringológico (obstruído vs. não obstruído). Um teste t de amostra independente foi usado para avaliar a associação entre as medidas em 3D das vias aéreas superiores e o diagnóstico otorrinolaringológico de obstrução nas três regiões anatômicas. Os coeficientes de correlação intraclasse inter e intraobservador foram usados para avaliar a confiabilidade das medidas em 3D.

Resultados

O coeficiente de correlação intraclasse variou de 0,97 a 0,99. Uma associação foi encontrada entre a hipertrofia de conchas e a redução do volume da cavidade nasal (p < 0,05) e entre a hiperplasia de tonsila faríngea e a redução do volume da nasofaringe (p < 0,001). Não foi encontrada associação entre a hiperplasia da tonsila palatina e a redução do volume da orofaringe.

Conclusões

1) O volume da cavidade nasal estava reduzido nas crianças com diagnóstico de hipertrofia de conchas; 2) O volume da nasofaringe estava reduzido nas crianças com diagnóstico de hiperplasia de tonsila faríngea; e 3) O volume da orofaringe de crianças com respiração bucal e hiperplasia de tonsila palatina foi semelhante ao de crianças respiradoras bucais sem aumento da tonsila palatina. A adoção da mensuração anatômica dos vários compartimentos da via aérea superior complementa o método de avaliação.

Palavras‐chave:
Tomografia
Respiração bucal
Cavidade nasal
Orofaringe
Nasofaringe
Texto Completo
Introdução

O exame clínico otorrinolaringológico da via aérea superior tem sido historicamente feito com a ajuda de imagens radiográficas para diagnosticar causas obstrutivas da respiração bucal (RB).1 Nas últimas décadas, a nasofibroscopia flexível (NF) tornou‐se uma ferramenta diagnóstica.2 O exame clínico combinado com a nasofibroscopia flexível (NF) é considerado o padrão‐ouro para o diagnóstico de obstrução das vias aéreas superiores.3,4 Com o crescente uso de tomografia computadorizada (TC) em vários campos das ciências da saúde e com o desenvolvimento e disponibilidade comercial de softwares, novas perspectivas apareceram. Essa tecnologia, entre outras características, permite uma mensuração mais rápida e confiável do volume e da área das vias aéreas.5–9 As imagens de TC são reprodutíveis, não apresentam erro de ampliação e permitem a obtenção de medidas em 3D. As medidas volumétricas das vias aéreas têm sido usadas em vários estudos e foram propostas como método científico padrão‐ouro para o estudo de problemas respiratórios.10 No entanto, a validação do uso de reconstruções em 3D para o diagnóstico de tecidos obstrutivos ainda não foi apresentada.

Vários fatores obstrutivos estão envolvidos na etiologia do distúrbio respiratório do sono.5,11,12 A hipertrofia das conchas nasais, da tonsila faríngea e das tonsilas palatinas tem um impacto importante na etiologia obstrutiva, principalmente em pacientes jovens.6,13,14 O diagnóstico precoce da obstrução das vias aéreas superiores pode contribuir para o encaminhamento oportuno a otorrinolaringologistas, previne complicações e melhora a qualidade de vida dos pacientes. A concordância entre o volume reduzido das vias aéreas superiores na TC e o diagnóstico otorrinolaringológico de obstrução pode beneficiar as investigações científicas e, eventualmente, a prática clínica. Estudos têm demonstrado que as medidas de volume das vias aéreas na TC, apesar de ser altamente reprodutíveis pelo mesmo software, demonstram baixa concordância quando diferentes programas e metodologias são usados.6,8,13 A grande variabilidade nos valores de medidas provavelmente seja decorrente das diferentes estruturas de referência usadas para medidas de vias aéreas na TC2–4,8,9,11,13,15, baseadas em critérios individuais dos pesquisadores. Os limites das cavidades que compõem as vias aéreas superiores não se baseiam em parâmetros anatômicos definidos; tipicamente, eles são baseados nas linhas e planos que facilitam a conveniente reprodutibilidade.

O objetivo deste estudo retrospectivo foi investigar se as medidas volumétricas em 3D da cavidade nasal, da nasofaringe e da orofaringe de crianças com RB e obstrução respiratória são diferentes das medidas de crianças com RB sem obstrução das vias aéreas superiores quando limites anatômicos precisos são definidos.

MétodoAmostra

O Comitê de Ética em Pesquisa da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais aprovou o uso do banco de dados do hospital. Os pais dos pacientes assinaram o termo de consentimento livre e informado e autorizaram o uso de exames para fins científicos. A privacidade de todos os indivíduos foi assegurada.

De 1.234 crianças selecionadas e tratadas por uma equipe de otorrinolaringologistas, alergistas, fonoaudiólogos, fisioterapeutas e ortodontistas, entre novembro de 2002 e setembro de 2014, no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais, foram selecionados 28 indivíduos que haviam sido submetidos à tomografia computadorizada multi‐slice (TCMS), além dos exames otorrinolaringológicos clínicos e endoscópicos convencionais. Todas essas crianças foram diagnosticadas com apneia obstrutiva do sono (AOS) na polissonografia e a TCMS foi indicada para melhor esclarecer os níveis de obstrução das vias aéreas superiores. As TCMS feita em pacientes com síndromes, desvio do septo nasal, malformações craniofaciais e procedimentos cirúrgicos otorrinolaringológicos prévios não foram incluídas na amostra. Depois da exclusão de três indivíduos, pela qualidade deficiente de seus exames, não adequada para fins de pesquisa, a amostra de conveniência total foi composta por 25 crianças (13 meninas e 12 meninos), de cinco a nove anos (média=6,56 anos, mediana=6 anos).

Os parâmetros anatômicos das vias aéreas propostos nesta pesquisa não foram usados em publicações anteriores. Portanto, o tamanho da amostra foi calculado com base no desvio‐padrão da análise dos primeiros 10 casos consecutivos. Pelo menos 12 pacientes deveriam ser incluídos em cada grupo de diagnóstico otorrinolaringológico (obstruídas versus não obstruídas,), os obstruídos em pelo menos um dos três locais anatômicos (cavidade nasal, nasofaringe e orofaringe), com base em um nível de significância alfa de 0,05 e um nível beta de 0,2 para alcançar um poder de 80% para detectar uma diferença média de 10% entre os grupos.

Avaliação otorrinolaringológica

Com base nos exames otorrinolaringológicos clínicos e endoscópicos feitos por dois dos autores na primeira consulta, o diagnóstico de obstrução das vias aéreas superiores foi feito em relação à cavidade nasal, nasofaringe e orofaringe (fig. 1). O exame endoscópico foi feito por um médico otorrinolaringologista experiente, com um nasofibroscópio flexível de 3,2mm (Machida ENT‐30PIII), associado a um endocoupler. A anestesia tópica em spray (2% de lidocaína com epinefrina a uma concentração de 1: 20.000) foi previamente administrada para reduzir o desconforto.

Figura 1.

Medidas das vias aéreas. A, cavidade nasal; B, Nasofaringe; C, Orofaringe.

(0,13MB).

A cavidade nasal foi considerada obstruída quando as conchas inferiores e/ou médias se apresentavam hipertróficas à rinoscopia anterior e a obstrução persistia após a descongestão com vasoconstrictor tópico. Considerou‐se obstrução nasofaríngea quando tecido hiperplásico adenoideano ocupava mais de 75% das coanas.16,17 Considerou‐se obstrução orofaríngea a presença de hiperplasia das tonsilas palatinas de Grau 3 ou 4 de Brodsky e Koch.18

Com base no diagnóstico clínico otorrinolaringológico, as crianças foram agrupadas de acordo com os achados das três regiões anatômicas das vias aéreas superiores. Nos grupos cavidade nasal e nasofaringe foram incluídos 13 indivíduos obstruídos e 12 indivíduos não obstruídos, cada. O grupo orofaringe apresentou 12 indivíduos com obstrução e 13 indivíduos sem obstrução. A idade cronológica e o gênero das crianças obstruídas e não obstruídas em cada um dos três grupos da região foram pareados.

Medidas volumétricas das vias aéreas superiores

Dezenove crianças foram submetidas à TCMS das vias aéreas feita no dia do exame clínico otorrinolaringológico, enquanto as outras seis crianças foram submetidas à tomografia computadorizada na primeira semana após o exame clínico otorrinolaringológico. As TCMS foram feitas no mesmo equipamento (scanner Somatom multi‐slice, 128 unidades, Siemens, Erlangen, Alemanha) com 100kV e um tempo de corrente de 36mA com 1,57 segundos de aquisição de voltagem de tubo. O radiologista responsável pelos exames de pacientes selecionados foi treinado e cegado para os resultados dos exames clínicos e endoscópicos feitos pelos otorrinolaringologistas. As crianças foram instruídas a não respirar profundamente, a não engolir e não mover a cabeça e a língua durante o exame e foram colocadas em posição supina. A colimação foi de 1mm e a espessura de corte foi de 0,6mm.

Com o intuito de padronizar as medidas e minimizar os erros, a imagem de TCMS reconstruída em 3D foi reorientada nos três planos espaciais. No plano frontal (coronal), a cabeça foi posicionada com a linha que conecta as suturas fronto‐zigomáticas direita e esquerda em paralelo ao solo. No plano lateral direito (sagital), o plano Horizontal de Frankfurt (HF) foi usado como plano de referência, o qual foi posicionado em paralelo ao solo. O plano HF foi construído a partir do poriun direito, localizado no ponto mais látero‐superior do meato auditivo externo e da órbita direitas. O plano superior (axial) foi construído através da crista galli e do básio e a linha que conecta a estrutura anatômica foi alinhada em paralelo ao plano médio sagital e perpendicular ao solo (fig. 2).

Figura 2.

Orientação do paciente na TCMS. A, plano sagital; B, plano coronal; C, plano axial.

(0,12MB).

A construção volumétrica e as medidas foram feitas por um radiologista experiente no uso de ferramentas específicas previamente calibradas para calcular o volume de vias aéreas (figs. 3‐5) (software Dolphin Imaging em modo 3D para via aérea/seios nasais, versão 11.5, Chatsworth, CA, EUA). O valor de limiar foi definido em 739 e os limites anatômicos foram estabelecidos com os pontos craniométricos descritos nas tabelas 1‐3.

Figura 3.

Medida volumétrica da cavidade nasal por TCMS. A, plano coronal, limites da abertura piriforme. B, plano axial, paredes laterais da cavidade nasal. C, plano sagital, parâmetros anatômicos descritos na tabela 1. D, plano sagital do volume da cavidade nasal.

(0,29MB).
Figura 4.

Medida volumétrica da nasofaringe. A, plano sagital, parâmetros anatômicos descritos na tabela 2. B, plano sagital do volume da nasofaringe.

(0,09MB).
Figura 5.

Medida volumétrica de orofaringe. A, plano sagital, parâmetros anatômicos descritos na tabela 3. B, plano sagital do volume de orofaringe.

(0,09MB).
Tabela 1.

Parâmetros cranianos usados na construção dos limites anatômicos da cavidade nasal

Parâmetros cranianos  Definição 
Espinha nasal anterior  Ponto mais anterior do assoalho da fossa nasal, no fundo da narina. 
Espinha nasal posterior  Ponto mais posterior do osso palatino e do assoalho das cavidades nasais. 
Násio  Ponto localizado no centro da sutura frontonasal 
Osso nasal  Ponto mais baixo do osso nasal 
Fissura pterigomaxilar  Ponto mais baixo da fissura pterigomaxilar 
Atlas  Ponto mais anteroinferior do Atlas 
Vômer  Ponto localizado na porção posterior do osso vômer 
Narina  Porção anterior da abertura da narina 
Nariz  Porção anterior da ponta do nariz 
Tabela 2.

Parâmetros cranianos usados na construção dos limites anatômicos da nasofaringe

Parâmetros cranianos  Definição 
Espinha nasal posterior  Ponto mais posterior do osso palatino e do assoalho das cavidades nasais 
Vômer  Ponto localizado na porção posterior do osso vômer 
Básio  Ponto localizado no limite inferior e posterior da borda anterior do forame magno 
Fissura pterigomaxilar  Ponto mais baixo da fossa pterigomaxilar 
Atlas  Ponto anteroinferior do atlas 
Tabela 3.

Parâmetros cranianos usados na construção dos limites anatômicos da orofaringe

Parâmetros cranianos  Definição 
Espinha nasal posterior  Ponto mais posterior do osso palatino e do assoalho das cavidades nasais. 
Atlas  Ponto anteroinferior do atlas 
Hioide  Ponto inferoposterior do osso hioide 
Vértebra C3  Ponto superior‐anterior da vértebra C3 
Método estatístico

Para determinar erros na identificação e nas medidas de parâmetros anatômicos, 20 indivíduos foram selecionados aleatoriamente e um segundo investigador refez as mesmas medidas. O primeiro investigador refez as medidas de 14 indivíduos, após um intervalo de um mês. Os coeficientes de correlação intraclasse (CCI) foram calculados para avaliar a concordância inter e intraexaminador. Para a avaliação das diferenças entre as crianças obstruídas e não obstruídas, usou‐se o teste t de amostras independentes. Foram feitos os pressupostos de normalidade dentro de cada grupo (teste de Kolmogorov‐Smirnov) e homocedasticidade (teste de Levene).

O nível de significância foi definido em p <0,05. Os dados foram analisados com o software SPSS, versão 20.0 (SPSS, Inc., Chicago, IL, EUA).

Resultados

O CCI foi de 0,99 para a avaliação da cavidade nasal e da orofaringe interobservador e 0,97 para a avaliação da nasofaringe interobservador. O CCI foi de 0,98 para a avaliação da cavidade nasal intraobservador e 0,98 para a avaliação da nasofaringe e orofaringe intraobservador. A reprodutibilidade do método foi considerada quase perfeita.

A figura 6 mostra os histogramas com a comparação entre os indivíduos RB com diagnóstico otorrinolaringológico de vias aéreas obstruídas e não obstruídas nos três locais anatômicos (cavidade nasal, nasofaringe e orofaringe).

Figura 6.

Medidas volumétricas na TCMS em 3D de A, cavidade nasal; B, orofaringe; e C, orofaringe em indivíduos obstruídos e não obstruídos de acordo com o diagnóstico clínico otorrinolaringológico e nasofibroscópico.

(0,14MB).

As medidas da cavidade nasal à TCMS‐3D mostraram uma redução de volume de 30% (p <0,05) nas crianças com RB e obstruídas por hipertrofia de conchas, em comparação com as crianças com RB cujas conchas foram consideradas dentro dos limites normais (10.564 vs. 15.073mm3). Além disso, a medida do volume da nasofaringe foi associada à hiperplasia adenoideana. As crianças cujas tonsilas faríngeas foram consideradas obstrutivas de acordo com o exame otorrinolaringológico apresentaram um volume reduzido de nasofaringe estatisticamente significante (2.757 vs. 4.143mm3) em comparação com as crianças respiradoras bucais sem tonsila faríngea obstrutiva (p <0,05), o que representa uma redução de volume de vias aéreas de 33%. As medidas da TCMS do volume da orofaringe não foram associadas a tonsilas palatinas obstrutivas.

As crianças com RB e tonsilas palatinas obstrutivas apresentaram medidas de orofaringe de 6.094mm3, enquanto as crianças sem tonsilas palatinas obstrutivas apresentaram uma medida de 5.453mm3. A redução de 11,5% do volume da via aérea orofaríngea nas crianças com RB sem tonsilas palatinas obstrutivas não foi estatisticamente significante (p=0,497).

Discussão

Uma excelente concordância intra e interobservador (ICC: 0,97‐0,99) foi encontrada neste estudo. Essa alta reprodutibilidade também foi descrita em estudos anteriores com medidas volumétricas das vias aéreas superiores.5,6,9,14 Entretanto, a validade das medidas volumétricas feitas com TC‐3D das vias aéreas superiores merece atenção e deve ser mais bem avaliada.6,19 O objetivo deste estudo foi avaliar se as medidas em 3D da cavidade nasal, nasofaringe e orofaringe estão de acordo com o diagnóstico clínico padrão‐ouro otorrinolaringológico. Para aumentar a validade das medidas, selecionamos parâmetros anatômicos, em vez de linhas e planos de referência usados nos estudos anteriores, que não retrataram com precisão os limites de cada região das vias aéreas superiores.8,11,15,20 Nossa hipótese é que a adoção de medidas da real anatomia dos compartimentos do espaço aéreo superior é um aprimoramento no método de avaliação.

Foi observado que a redução do volume da cavidade nasal e da nasofaringe está associada a conchas hipertróficas e tonsilas faríngeas aumentadas, respectivamente. Mas quando as tonsilas palatinas estão aumentadas, nenhuma concordância foi observada na redução do volume da orofaringe em 3D. A medida volumétrica da orofaringe em 3D do grupo com amigdalas obstrutivas e não obstrutivas foi estatisticamente similar. Esse resultado foi inesperado porque parece contraditório o fato de que a orofaringe possa estar pelo menos parcialmente ocupada por tecido linfoide aumentado e, entretanto, seu volume permaneça inalterado. Esse resultado pode ser atribuído a um posicionamento mais posterior da língua durante o exame do paciente em posição supina durante a TCMS.4,17,21 Essa queda posterior da língua para o interior da orofaringe, que apareceu em todos os indivíduos, pode ter mascarado o volume verdadeiro desse sítio anatômico nas crianças com RB sem aumento de tonsilas palatinas. Portanto, uma redução falso‐positiva das vias aéreas pôde ser observada na tomografia computadorizada de pacientes em posição supina. Nossos achados em relação à orofaringe devem ser diferentes dos estudos anteriores que usaram tomografia computadorizada de feixe cônico (TCFC) na posição sentada. No entanto, entendemos que quando as crianças estão em posição supina, elas são colocadas em uma condição mais próxima da posição de dormir do que se estivessem sentadas, a qual é usada pela maioria dos equipamentos de TCFC. Outra vantagem da TCMS, em comparação com a TCFC, é o tempo de aquisição. A TCMS é significativamente mais rápida (1,57 segundo) em contraste com a TCFC (40 segundos), facilita o exame de crianças pequenas não colaborativas e reduz o viés dos movimentos respiratórios que ocorrem em exames demorados.21,22

Várias metodologias têm sido propostas para a avaliação das vias aéreas em radiografias laterais1,2,10 e imagens de TC.6,8,14,23 Uma revisão dos dados publicados anteriormente sobre esse tópico mostra que a definição anatômica das vias aéreas tem sido extremamente variável e não baseada em parâmetros anatômicos precisos.8,10,13 Neste estudo, usamos os parâmetros anatômicos reais, como definido nas tabelas 1‐3. Em vez de usar a espinha nasal anterior como o limite anterior da cavidade nasal,6,15,24 consideramos toda a extensão do nariz até a abertura da narina para as medidas volumétricas. Além disso, o limite superior da cavidade nasal foi mais apurado. Em um estudo anterior, a medida da altura da cavidade nasal foi significativamente subcalculada. Para aumentar a validade das medidas da nasofaringe, a coana foi considerada a sua parede anterior. Estudos anteriores não avaliaram a nasofaringe de maneira adequada porque, na maioria dos casos, uma parte significativa da cavidade nasal foi incluída na nasofaringe.6,10,20

Este é um estudo pioneiro na avaliação de mudanças no volume em 3D de sítios específicos das vias aéreas superiores. Nosso método de mensuração e apresentação de resultados pode contribuir para futuras investigações científicas de avaliação das vias aéreas superiores em 3D, pois é baseado em parâmetros anatômicos, e não referências anatômicas de conveniência, que não representam a verdadeira anatomia. As evidências da presente investigação confirmaram que as avaliações volumétricas de vias aéreas superiores por TCMS são bastante reprodutíveis. Adicionamos informações que mostram que é provável que a hipertrofia de conchas e a hiperplasia de tonsila faríngea sejam encontradas nos casos em que os volumes da cavidade nasal e da nasofaringe estejam reduzidos. O volume da orofaringe nas medidas da TCMS não está associado à obstrução clínica das tonsilas palatinas. Pesquisas adicionais são necessárias para elucidar a associação entre obstrução causada pela tonsila palatina e seu efeito sobre as vias aéreas em crianças com RB quando em posição sentada e em decúbito dorsal.

Como comentário final, é importante notar que a indicação de TCMS não é rotineira na avaliação de crianças com respiração bucal e deve ser reservada para casos excepcionais, mas não tão raros.

Conclusões

Com base nos achados volumétricos da TCMS e no diagnóstico otorrinolaringológico, as seguintes conclusões podem ser apresentadas:

  • 1)

    O volume da cavidade nasal estava reduzido nos pacientes diagnosticados com conchas hipertróficas.

  • 2)

    A nasofaringe estava reduzida nos pacientes diagnosticados com hiperplasia de tonsila faríngea.

  • 3)

    O volume da orofaringe das crianças respiradoras orais e tonsilas palatinas obstrutivas foi semelhante ao das crianças respiradoras orais sem obstrução de vias aéreas.

Conflitos de interesse

Os autores declaram não haver conflitos de interesse.

Agradecimentos

A Paula Cheib Vilefort por sua amável contribuição na arte.

Referências
[1]
M.Q. Souki, B.Q. Souki, L.P. Franco, H.M. Becker, E.A. Araújo.
Reliability of subjective, linear, ratio and area cephalometric measurements in assessing adenoid hypertrophy among different age groups.
Angle Orthod, 82 (2012), pp. 1001-1007
[2]
R.J. Schwab, A.N. Goldberg.
Upper airway assessment: radiographic and other imaging techniques.
Otolaryngol Clin North Am, 31 (1998), pp. 931-968
[3]
M. Modrzynski, E. Zawisza.
An analysis of the incidence of adenoid hypertrophy in allergic children.
Int J Pediatr Otorhinolaryngol, 71 (2007), pp. 713-719
[4]
A. Magnusson, K. Bjerklin, P. Nilsson, F. Jönsson, A. Marcusson.
Nasal cavity size, airway resistance, and subjective sensation after surgically assisted rapid maxillary expansion: a prospective longitudinal study.
Am J Orthod Dentofac Orthop, 140 (2011), pp. 641-651
[5]
M.G. Lenza, M.M. Lenza, M. Dalstra, B. Melsen, P.M. Cattaneo.
An analysis of different approaches to the assessment of upper airway morphology: a CBCT study.
Orthod Craniofac Res, 13 (2010), pp. 96-105
[6]
H. El, J.M. Palomo.
Measuring the airway in 3 dimensions: a reliability and accuracy study.
Am J Orthod Dentofac Orthop, 137 (2010),
S50.e1–9; discussion S50‐2
[7]
B.F. Gribel, M.N. Gribel, D.C. Frazäo, J.A. McNamara Jr., F.R. Manzi.
Accuracy and reliability of craniometric measurements on lateral cephalometry and 3D measurements on CBCT scans.
Angle Orthod, 81 (2011), pp. 26-35
[8]
R. Guijarro-Martínez, G.R. Swennen.
Cone‐beam computerized tomography imaging and analysis of the upper airway: a systematic review of the literature.
Int J Oral Maxillofac Surg, 40 (2011), pp. 1227-1237
[9]
M. Alves Jr., C. Baratieri, C.T. Mattos, D. Brunetto, C. Fontes Rda, J.R. Santos, et al.
Is the airway volume being correctly analyzed?.
Am J Orthod Dentofac Orthop, 141 (2012), pp. 657-661
[10]
M.P. Major, C. Flores-Mir, P.W. Major.
Assessment of lateral cephalometric diagnosis of adenoid hypertrophy and posterior upper airway obstruction: a systematic review.
Am J Orthod Dentofac Orthop, 130 (2006), pp. 700-708
[11]
D. Grauer, L.S. Cevidanes, M.A. Styner, J.L. Ackerman, W.R. Proffit.
Pharyngeal airway volume and shape from cone‐beam computed tomography: relationship to facial morphology.
Am J Orthod Dentofac Orthop, 136 (2009), pp. 805-814
[12]
J.D. Subtelny, H.K. Baker.
The significance of adenoid tissue in velopharyngeal function.
Plast Reconstr Surg, 17 (1956), pp. 235-250
[13]
N.A. Alsufyani, C. Flores-Mir, P.W. Major.
Three‐dimensional segmentation of the upper airway using cone beam CT: a systematic review.
Dentomaxillofac Radiol, 41 (2012), pp. 276-284
[14]
A. Ghoneima, K. Kula.
Accuracy and reliability of cone‐beam computed tomography for airway volume analysis.
Eur J Orthod, 35 (2013), pp. 256-261
[15]
H. El, J.M. Palomo.
Airway volume for different dentofacial skeletal patterns.
Am J Orthod Dentofac Orthop, 139 (2011), pp. e511-e521
[16]
L. Zhang, R.A. Mendoza-Sassi, J.A. César, N.K. Chadha.
Intranasal corticosteroids for nasal airway obstruction in children with moderate to severe adenoidal hypertrophy.
Cochrane Database Syst Rev, (2008), pp. CD006286
[17]
P. Cassano, M. Gelardi, M. Cassano, M.L. Fiorella, R. Fiorella.
Adenoid tissue rhinopharyngeal obstruction grading based on fiberendoscopic findings: a novel approach to therapeutic management.
Int J Pediatr Otorhinolaryngol, 67 (2003), pp. 1303-1309
[18]
L. Brodsky, R.J. Koch.
Anatomic correlates of normal and diseased adenoids in children.
Laryngoscope, 102 (1992), pp. 1268-1274
[19]
R. Guijarro-Martínez, G.R. Swennen.
Three‐dimensional cone beam computed tomography definition of the anatomical subregions of the upper airway: a validation study.
Int J Oral Maxillofac Surg, 42 (2013), pp. 1140-1149
[20]
C. Aboudara, I. Nielsen, J.C. Huang, K. Maki, A.J. Miller, D. Hatcher.
Comparison of airway space with conventional lateral headfilms and 3‐dimensional reconstruction from cone‐beam computed tomography.
Am J Orthod Dentofac Orthop, 135 (2009), pp. 468-479
[21]
E.K. Pae, A.A. Lowe, K. Sasaki, C. Price, M. Tsuchiya, J.A. Fleetham.
A cephalometric and electromyographic study of upper airway structures in the upright and supine positions.
Am J Orthod Dentofac Orthop, 106 (1994), pp. 52-59
[22]
K. Al-Noury, A. Lotfy.
Role of multislice computed tomography and local contrast in the diagnosis and characterization of choanal atresia.
Int J Pediatr, 2011 (2011), pp. 280763
[23]
W. Ursi, S.R. Zinsly, L.C. Moraes, P. Moura.
Assessment of pharyngeal airway space using cone‐beam computed tomography.
Dent Press J Orthod, 15 (2010), pp. 150-158
[24]
L.V. Claudino, C.T. Mattos, A.C. Ruellas, E.F. Sant’Anna.
Pharyngeal airway characterization in adolescents related to facial skeletal pattern: a preliminary study.
Am J Orthod Dentofac Orthop, 143 (2013), pp. 799-809

Como citar este artigo: Vidigal BC, Mordente CM, Cheib PL, Manzi FR, Franco LP, Becker HM, et al. Are computed tomography 3D measurements of the upper airways in mouth‐breathing children in agreement with the ENT clinical diagnosis of obstruction? Braz J Otorhinolaryngol 2019;85:213–21.

A revisão por pares é da responsabilidade da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico‐Facial.

Copyright © 2018. Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial
Idiomas
Brazilian Journal of Otorhinolaryngology
Opções de artigo
Ferramentas
en pt
Announcement Nota importante
Articles submitted as of May 1, 2022, which are accepted for publication will be subject to a fee (Article Publishing Charge, APC) payment by the author or research funder to cover the costs associated with publication. By submitting the manuscript to this journal, the authors agree to these terms. All manuscripts must be submitted in English.. Os artigos submetidos a partir de 1º de maio de 2022, que forem aceitos para publicação estarão sujeitos a uma taxa (Article Publishing Charge, APC) a ser paga pelo autor para cobrir os custos associados à publicação. Ao submeterem o manuscrito a esta revista, os autores concordam com esses termos. Todos os manuscritos devem ser submetidos em inglês.