“Tontura’ é uma queixa comum na prática clínica que pode ocorrer com qualquer pessoa. No entanto, como o sintoma pode ser causado por uma grande quantidade de distúrbios, o clínico geral normalmente enfrenta alguma dificuldade em detectar sua causa.
ObjetivoFormular e validar um instrumento simples que pode ser usado para rastrear e predizer a causa mais provável de tontura em pacientes ambulatoriais tailandeses.
MétodoEste estudo foi dividido em duas fases. A fase I consistiu em determinar o algoritmo, usaram‐se 41 pacientes com diagnóstico de causa comum de tontura, depois construir o questionário de algoritmo estrutural versão 1 (structural algorithm questionnaire version 1) e testar e retestar a validade de seu conteúdo e sua confiabilidade até que o instrumento apresentasse um nível aceitável de ambos. A fase II do estudo consistiu em avaliar a precisão do instrumento em ensaios clínicos, 150 pacientes com tontura foram pessoalmente entrevistados enquanto aguardavam o atendimento médico.
ResultadosO grau de concordância entre os resultados do algoritmo e os diagnósticos clínicos ficou dentro de um nível aceitável (κ=0,69). Portanto, esse algoritmo foi usado para construir o questionário de algoritmo estrutural versão 1. A validade de conteúdo do questionário foi avaliada por sete especialistas. Os valores do índice de validade de conteúdo do questionário variaram de 0,71 a 1,0. O coeficiente kappa de Cohen (κ) de confiabilidade intraexaminador foi de 0,71. Em estudos clínicos, 150 pacientes com tontura foram pessoalmente entrevistados enquanto aguardavam a consulta com o médico. A concordância geral entre as respostas ao questionário e os diagnósticos finais dos especialistas mostrou um grau moderado de acurácia clínica (κ=0,55).
ConclusõesO questionário de algoritmo estrutural versão 1teve um desenho bem desenvolvido e qualidade aceitável no que diz respeito à validade e confiabilidade. Pode ser usado para diferenciar a causa da tontura entre distúrbios vestibulares e não vestibulares, especialmente em pacientes ambulatoriais com sintomas de tontura.
A tontura é a segunda queixa mais comum na prática clínica diária, com prevalência estimada ao longo da vida entre 20%–30%.1,2 A sensação, entretanto, é bastante subjetiva e possivelmente derivada de vários distúrbios, inclusive doenças vestibulares, cardiovasculares, neurológicas, metabólicas e psiquiátricas.3,4 Portanto, os médicos muitas vezes enfrentam alguma dificuldade de diagnosticar a causa da tontura.5 Aproximadamente três em cada quatro pacientes com queixa de tontura obtêm o diagnóstico correto apenas com base em seus dados clínicos.4,6 A anamnese desempenha um papel crucial na avaliação de pacientes com tontura.4,6–12 No entanto, essa é uma tarefa difícil. O próprio significado da palavra “tontura” é ambíguo e abrange várias sensações, tais como vertigem, desmaio, tontura, fraqueza ou instabilidade. Muitos pacientes tendem a ser incertos e não confiáveis13 ao descrever seus sintomas e as queixas geralmente envolvem ansiedade.9 Portanto, fazer o diagnóstico diferencial com base na descrição dos sintomas é bastante problemático nos setores de atenção primária.6 Em consequência, os pacientes ocasionalmente recebem diagnóstico inadequado ou tratamento insuficiente.14 De acordo com nossa revisão da literatura, alguns pesquisadores tentaram criar um questionário com base nos sintomas dos pacientes como uma ferramenta de diagnóstico diferencial. O poder preditivo variou de 60% a 84% nesses estudos.6,8,12,15,16 Todavia, os estudos anteriores foram formulados com o número de questões de autoadministração (entre 4–163 itens) e estão disponíveis apenas na língua inglesa.6,8,12,16,17 As diferentes interpretações da linguagem podem afetar a compreensão e as respostas dos pacientes. Além disso, nunca houve um relato ou publicação amplamente disponível sobre o uso do algoritmo de um questionário estruturado.
Portanto, nosso objetivo foi criar um questionário de entrevista, com o uso de uma abordagem de algoritmo para sugerir o possível diagnóstico de distúrbios vestibulares comuns em pacientes ambulatoriais tailandeses e, em seguida, avaliar sua confiabilidade e validade.
MétodoEste estudo foi conduzido em dois ambientes de cuidados terciários de junho de 2018 a outubro de 2019. O protocolo do estudo foi revisado e aprovado pelo comitê de ética em pesquisa com seres humanos da Khon Kaen University (HE601466) e pelo comitê de pesquisa, Faculty of Medicine Ramathibodi Hospital, Mahidol University (MURA2017/915). Todos os participantes receberam uma explicação do propósito e procedimento do estudo e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. O estudo foi desenvolvido em duas fases: na primeira fase, o “questionário de algoritmo estrutural versão 1” (algorithm questionnaire version 1 ‐ SAQ‐1) foi desenvolvido e, na segunda fase, o teste‐reteste da confiabilidade e da acurácia diagnóstica do SAQ‐1 foi avaliado em pacientes com tontura (fig. 1).
O SAQ‐1 é um questionário baseado em algoritmo estrutural, com o objetivo de ajudar os médicos a determinar a possível causa de tontura. O desenvolvimento do SAQ‐1 começou com a escolha de algoritmos com base nos preditivos de sintomas significativos, que consideram as razões de chance e modelos estatísticos, em estudos anteriores.6,8,16–19 A série de questões binárias foi então formulada de acordo com os algoritmos escolhidos. A sequência de perguntas foi referente ao curso do tempo, dos fatores desencadeantes e sintomas associados. O resultado final do questionário foi o diagnóstico hipotético com base nos critérios diagnósticos formulados pela comissão de classificação dos distúrbios vestibulares da Sociedade Bárány. A propriedade da sequência algorítmica e sua validade aparente para todas as questões foram aprovadas por dois otoneurologistas altamente experientes.
Etapa II: Validação do algoritmoPara validar a sequência do algoritmo e o resultado final da versão preliminar do questionário baseado em algoritmo estrutural, o diagnóstico hipotético do questionário foi comparado ao diagnóstico clínico feito pelos otoneurologistas. Quarenta e um dos pacientes ambulatoriais com casos conhecidos de tontura e vertigem nos últimos seis meses foram recrutados para essa etapa. A estimativa do tamanho da amostra foi baseada em estudos anteriores.20,21 Todos os participantes foram entrevistados pessoalmente. Um nível de concordância de no mínimo 75% foi definido como aceitável para a validação do algoritmo.22,23
Etapa III: Estudo de validade de conteúdoApós a validação da sequência do algoritmo, a validade de conteúdo do questionário foi avaliada. Sete especialistas, inclusive dois otoneurologistas, três otorrinolaringologistas, um fonoaudiólogo e um fisioterapeuta com mais de 10 anos de experiência clínica, foram convidados para julgar a relevância do SAQ‐1, com o uso do índice de validade de conteúdo (IVC). Esses especialistas foram solicitados a classificar a relevância de cada item com base em uma escala ordinal de quatro pontos (1=não relevante; 2=pouco relevante; 3=relevante; 4=altamente relevante). A relevância de cada item no questionârio SAQ‐1 foi calculada (índice de validade de conteúdo do item [I‐VCI]), bem como a relevância de todo o questionário SAQ‐1 (índice de calidade de conteúdo da escala [I‐VCE]). Os valores aceitáveis de IVCIs e IVCEs foram de no mínimo 0,78 e 0,90, respectivamente.24–27 Itens com valores inferiores ao limiar de I‐VCI de 0,78 foram revisados com base em discussões de especialistas.
Fase II: Teste‐reteste de confiabilidade e acurácia clínicaPara determinar a reprodutibilidade e a acurácia clínica do SAQ‐1, o diagnóstico hipotético do questionário foi comparado entre duas consultas e com o diagnóstico clínico feito por otoneurologistas experientes três meses após a consulta inicial.
ParticipantesPacientes tailandeses entre 18 e 65 anos com a primeira e recente crise de tontura ou vertigem nos últimos seis meses foram recrutados na clínica de otorrinolaringologia ambulatorial nos dois hospitais terciários: Ramathibodi Hospital e Srinagarind Hospital. Os recrutados deviam entender e se comunicar na língua tailandesa e desejarem participar do estudo. Foram excluídos aqueles que apresentavam afasia, deficiência cognitiva grave e deficiência mental ou outras condições que perturbassem sua capacidade de participar do processo de entrevista.
ProcedimentosNa primeira visita, os participantes elegíveis foram entrevistados pessoalmente por entrevistadores treinados com o uso do SAQ‐1 antes da consulta com seus médicos. Em seguida, os participantes foram solicitados a ser novamente entrevistados durante a consulta de acompanhamento, que variou entre duas a quatro semanas. Para investigar a acurácia diagnóstica do SAQ‐1, o diagnóstico hipotético do SAQ‐1 foi posteriormente comparado aos diagnósticos médicos de dois otoneurologistas experientes. Também seguiram os critérios diagnósticos baseados na comissão de classificação dos distúrbios vestibulares da Sociedade Bárány.
Análise estatísticaO grau de concordância entre os resultados do algoritmo e o diagnóstico final na Etapa II foi determinado com o coeficiente de concordância de kappa da estatística de Cohen e um intervalo de confiança de 95%.
Na Fase II, a estatística descritiva foi usada para descrever as características demográficas dos participantes e a distribuição explorada dos diagnósticos. O coeficiente de concordância de kappa e um intervalo de confiança de 95% foram usados para determinar a confiabilidade do SAQ‐1 e o grau de concordância dos diagnósticos entre os resultados do questionário e dos otoneurologistas experientes (acurácia clínica).
Todos os dados foram analisados por meio do programa estatístico Stata versão 11.
ResultadosFase I: Desenvolvimento do SAQ‐1Etapa I: Sequência algorítmica e validade aparenteA versão preliminar do questionário baseado em algoritmo estrutural continha três domínios e 20 questões: três sobre o curso do tempo dos sintomas de tontura e vertigem, sete sobre os fatores desencadeantes e dez sobre os sintomas associados. A primeira pergunta a fazer a todos era se a tontura era episódica ou contínua. As perguntas seguintes variam de acordo com as respostas às perguntas anteriores. A sequência do algoritmo foi projetada para sugerir o diagnóstico hipotético. O número mínimo de perguntas para obtenção do diagnóstico foi de três e o máximo de 10. O tempo médio de entrevista foi de 15 minutos. O questionário baseado em algoritmo estrutural alocou os pacientes em grupos vestibulares ou não vestibulares. O grupo vestibular foi posteriormente dividido em vertigem postural paroxística benigna (VPPB), doença de Ménière (DM), migrânea vestibular (MV), vestibulopatia unilateral aguda e outros distúrbios vestibulares. O grupo não vestibular incluiu insuficiência vertebrobasilar (IVB), ataque isquêmico transitório (AIT), acidente vascular cerebral (AVC), doença de Parkinson (DP), ataxia, hipotensão postural, doença cardiovascular, ototoxicidade, tontura postural‐perceptual persistente (TPPP) e tontura multifatorial.
Etapa II: Validação do algoritmoQuarenta e um dos pacientes ambulatoriais (sexo feminino/masculino=28/13 e idade=49,34±9,68 anos) foram recrutados para o estudo. Portanto, foram diagnosticados com causas comuns de tontura, n (%): VPPB=11 (26,83); DM=9 (21,95); MV=14 (34,15); vestibulopatia unilateral aguda=3 (7,32); outra causa vestibular periférica=2 (4,88) e causa não vestibular=2 (4,88).
Para validar o algoritmo, ao comparar as disfunções vestibulares específicas entre o diagnóstico feito por otoneurologistas experientes e o resultado da segunda versão do algoritmo, a concordância foi de 75,61% com coeficiente kappa de Cohen=0,69 (p <0,05).
Etapa III: Estudo de validade de conteúdoA validade de conteúdo do SAQ‐1 (20 itens) revelou que os escores do I‐VCI variaram de 0,71 a 1,00. Apenas quatro questões (20%) sobre os fatores desencadeantes e sintomas associados precisaram de revisão, pois os escores do I‐VCI foram inferiores a 0,78. Por fim, o I‐VCE/Médio para a versão final do SAQ‐1 foi de 0,86. A tabela 1 apresenta a versão final do SAQ‐1.
A versão final do SAQ‐1
Item | Detalhes | Resposta | |
---|---|---|---|
Q1 | Ataque episódico | □ Sim | □ Não |
Q2 | Ataque único | □ Sim | □ Não |
Q3 | Tontura crônica | □ Sim | □ Não |
Q4 | Desencadeado por um movimento específico da cabeça: deitado, rolando, curvando‐se, olhando para cima | □ Sim | □ Não |
Q5 | Desencadeado pela mudança para a posição vertical: de deitado para sentar‐se, de sentado para ficar em pé | □ Sim | □ Não |
Q6 | Desencadeado por movimentos não específicos ou em todas as posições da cabeça | □ Sim | □ Não |
Q7 | Desencadeado por mudança de pressão: por exemplo, tosse‐espirro, levantamento de peso, Valsava, elevadores rápidos, aviões, mergulho, sons altos | □ Sim | □ Não |
Q8 | Ocorreu após o início do trauma | □ Sim | □ Não |
Q9 | Ocorreu após mudança de medicação: antibióticos, medicamentos para hipertensão, diabetes mellitus, dislipidemia, arritmia, anticonvulsivantes | □ Sim | □ Não |
Q10 | Ocorreu após o início de infecção: febre, dor de cabeça, dor de ouvido | □ Sim | □ Não |
Q11 | Apagões ou desmaio quando tonto | □ Sim | □ Não |
Q12 | Associado a sintomas neurológicos | □ Sim | □ Não |
Q13 | Associado a sintomas otológicos: perda auditiva, zumbido, plenitude auricular | □ Sim | □ Não |
Q14 | Associado a flutuações na perda auditiva, zumbido, plenitude auricular | □ Sim | □ Não |
Q15 | Associado à perda auditiva unilateral súbita | □ Sim | □ Não |
Q16 | Associado à perda auditiva unilateral progressiva | □ Sim | □ Não |
Q17 | Associado a problemas cervicais: dor no pescoço, movimentos limitados, artrite | □ Sim | □ Não |
Q18 | Associado a sintomas de migrânea | □ Sim | □ Não |
Q19 | Associado a sintomas cardiovasculares | □ Sim | □ Não |
Q20 | Associado a estresse, ansiedade ou certas situações | □ Sim | □ Não |
Foram convidados a participar do estudo 173 pacientes com queixas de tontura. Vinte e três deles se recusaram a participar, restaram 150 que concordaram em permanecer no estudo. A média de idade na consulta inicial era de 52,4±10,2 anos (variação de 25‐65), com 70% mulheres e 30% homens. A tabela 2 mostra as características demográficas e os diagnósticos de todos os pacientes.
Características dos participantes (pacientes ambulatoriais com novas queixas de tontura) e diagnósticos no estudo da fase II (n=150)
Características e diagnósticos | Total |
---|---|
A) Características | |
Idade, média±DP (anos) | 52,4±10,2 |
Gênero, n (%) | |
Masculino | 45 (30,0) |
Feminino | 105 (70,0) |
Escolaridade, n (%) | |
Ensino fundamental ou inferior | 16 (10,7) |
Ensino médio | 16 (10,7) |
Diploma | 18 (12,0) |
Bacharelado | 67 (44,7) |
Mestrado ou superior | 32 (21,3) |
Outro | 1 (0,7) |
Duração entre consultas, média±DP (dias) | 24,8±12,9 |
B) Categorias de diagnóstico, n (%) | |
VPPB | 39 (26,0) |
DM | 14 (9,3) |
MV | 23 (15,3) |
Vestibulopatia unilateral aguda | 2 (1,3) |
Outro vestibular | 28 (18,7) |
Não vestibular | 31 (20,7) |
Inconclusivo | 13 (8,7) |
VPPB, Vertigem posicional paroxística benigna; DM, Doença de Ménière; MV, Migrânea vestibular; SD, Desvio padrão.
Confiabilidade do teste‐reteste: 121 pacientes (80,67%) compareceram às duas consultas. O percentual geral de concordância das respostas ao questionário entre as duas consultas foi de 77,70% e o coeficiente kappa de Cohen foi de 0,71 (p <0,05), o que indicou concordância substancial (tabela 3).
Confiabilidade do teste‐reteste, do grau de concordância das respostas específicas ao questionário entre as consultas inicial e de acompanhamento (n=121)
Resultados da segunda consulta (n) | Resultados da primeira consulta (n) | ||||||
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VPPB | DM | MV | Vestibulopatia unilateral aguda | Outro vestibular | Distúrbios não vestibulares | Total | |
VPPB | 26 | 1 | 1 | 0 | 0 | 3 | 31 |
DM | 0 | 7 | 2 | 0 | 0 | 0 | 9 |
MV | 0 | 2 | 19 | 0 | 3 | 2 | 26 |
Vestibulopatia unilateral aguda | 0 | 0 | 0 | 2 | 0 | 0 | 2 |
Outro vestibular | 0 | 2 | 1 | 0 | 11 | 4 | 18 |
Distúrbios não vestibulares | 1 | 1 | 1 | 0 | 3 | 29 | 35 |
Total | 27 | 13 | 24 | 2 | 17 | 38 | 121 |
VPPB, Vertigem posicional paroxística benigna; DM, Doença de Ménière; MV, Migrânea vestibular; IC, Intervalo de confiança.
Percentual de concordância (95% CI)=77.70% (70.16–85.21)
Kappa de Cohen (95% CI)=0.71 (0.62–0.81)
Para validar a versão final do SAQ‐1 com o uso da consulta inicial como o “padrão de referência” deste estudo, o diagnóstico clínico final foi feito por otoneurologistas experientes três meses após a primeira consulta. Houve 13 pacientes com diagnóstico inconclusive. Portanto, 137 dos 150 pacientes (91,33%) permaneceram para análise de acurácia do estudo. O diagnóstico final de tontura foi amplamente categorizado em 106 (77,37%) distúrbios vestibulares e 31 (22,63%) distúrbios não vestibulares. Os diagnósticos finais e as características basais desses pacientes estão na tabela 4. A concordância geral do questionário foi de 64,23% e o coeficiente kappa de Cohen foi de 0,55 (p <0,05). VPPB apresentou o maior percentual de concordância, seguida por MV e distúrbios não vestibulares.
Acurácia clínica, grau de concordância das respostas específicas ao questionário (primeira consulta) e os diagnósticos clínicos feitos por otoneurologistas experientes para pacientes recém‐diagnosticados (n=137)
Resultados do questionário (n) | Diagnóstico clínico (n) | ||||||
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VPPB | DM | MV | Vestibulopatia unilateral aguda | Outro vestibular | Distúrbios não vestibulares | Total | |
VPPB | 36 | 0 | 0 | 0 | 2 | 1 | 39 |
DM | 1 | 5 | 1 | 0 | 5 | 1 | 13 |
MV | 1 | 3 | 17 | 0 | 3 | 3 | 27 |
Vestibulopatia unilateral aguda | 0 | 0 | 0 | 1 | 0 | 1 | 2 |
Outro vestibular | 0 | 3 | 2 | 1 | 7 | 3 | 16 |
Distúrbios não vestibulares | 1 | 3 | 3 | 0 | 11 | 22 | 40 |
Total | 39 | 14 | 23 | 2 | 28 | 31 | 137 |
VPPB, Vertigem posicional paroxística benigna; DM, Doença de Ménière; MV, Migrânea vestibular; IC, Intervalo de confiança; n, número de participantes.
A anamnese é a primeira etapa importante para avaliar os pacientes com queixas de tontura. Tradicionalmente, a qualidade dos sintomas, como tontura, vertigem ou sensação de “cabeça vazia”, estava principalmente em foco.28 Essa abordagem, entretanto, não era prática, pois esses sintomas não são específicos e podem surgir tanto de condições vestibulares quanto não vestibulares. Então, a abordagem de tempo e fatores desencadeantes foi proposta e se tornou amplamente popular. Essa abordagem tem uma vantagem sobre a abordagem tradicional porque os pacientes podem explicar as características de seus sintomas de forma mais clara e precisa do que os tipos de sintomas.29–31 A sequência algorítmica do SAQ‐1 também foi baseada na abordagem de tempo e fatores desencadeantes. 32–34 Como a anamnese é uma parte essencial do processo diagnóstico, o SAQ‐1 visa auxiliar o processo de anamnese a ser mais sistemático, menos demorado e a chegar a um diagnóstico hipotético na primeira consulta. Vários questionários foram desenvolvidos ao longo dos anos.6,8,15–17,19 O número de perguntas variou de 4 a 163. Todos os questionários anteriores foram respondidos pelos próprios pacientes.6,8,15–17,19 Os participantes liam as perguntas e escolhiam a resposta mais apropriada para eles. O SAQ‐1, no entanto, consiste em perguntas de entrevista com roteiro. O entrevistador irá ler cada pergunta para os participantes e eles têm apenas duas opções de resposta: sim ou não. Portanto, se eles não entenderem claramente as perguntas, podem pedir mais explicações. A explicação complementar será lida para eles. O tempo de entrevista não ultrapassa 15 minutos. A depender do algoritmo, alguns chegarão ao diagnóstico em três perguntas, enquanto outros talvez precisem de 10 perguntas.
A acurácia clínica do SAQ‐1 foi satisfatória. O percentual de concordância entre o diagnóstico hipotético do questionário e o diagnóstico médico dos otoneurologistas foi relativamente substancial. Porém, houve 10% dos participantes que não alcançaram o diagnóstico final ou obtiveram diagnóstico inconclusivo. De acordo com os resultados do SAQ‐1, o diagnóstico possível de cinco indivíduos era vestibulopatia periférica, como doença de Ménière ou vestibulopatia recorrente, o de seis indivíduos era migrânea vestibular e o de dois indivíduos era causa não vestibular, como TPPP. A capacidade do SAQ‐1 para detectar o grupo vestibular é bastante grande. A capacidade de diferenciação dentro do grupo vestibular, entretanto, ainda precisa ser melhorada. A razão para isso é que alguns distúrbios vestibulares apresentam sintomas muito semelhantes e um tanto flutuantes.35 A migrânea vestibular e a DM são ataques episódicos com alguns sintomas sobrepostos. No que nos diz respeito, o SAQ‐1 atende adequadamente ao propósito de ser um questionário de triagem. Para obter o diagnóstico final, testes de função vestibular ainda são necessários.
Embora o estudo tenha alcançado seu objetivo, algumas limitações inevitáveis devem ser observadas. Em primeiro lugar, o tamanho da amostra foi menor do que esperávamos. Isso se deve a aproximadamente 20% de abandono e ao limite de tempo. É comum que pacientes com tontura não retornem para acompanhamento quando os sintomas desaparecem. Em segundo lugar, o SAQ‐1 processa apenas um único diagnóstico. Na realidade, muitos pacientes com tontura provavelmente apresentam condições multifatoriais. Os pacientes tendem a relatar apenas os sintomas dominantes.
ConclusãoO SAQ‐1 tem um desenho bem desenvolvido e qualidade aceitável tanto na validade quanto na confiabilidade. Ajuda os médicos a diferenciar a causa da tontura entre distúrbios vestibulares e não vestibulares, especialmente em pacientes ambulatoriais com sintomas vestibulares não agudos, crônicos ou recorrentes. Mais estudos devem ser feitos para testar o desempenho desse instrumento em diferentes ambientes clínicos, especialmente em setores de cuidados primários.
FinanciamentoResearch Center on the Back, Neck, Other Joint Pain and Human Performance (BNOJPH), Faculty of Associated Medical Sciences, Khon Kaen University.
Conflitos de interesseOs autores declaram não haver conflitos de interesse.
A todos os indivíduos que participaram deste estudo. Especialmente aos especialistas em conteúdo por sua disposição de participar de um painel de especialistas em validade de conteúdo.
Como citar este artigo: Suvanich R, Chatchawan U, Jariengprasert C, Yimtae K, Hunsawong T, Emasithi A. Development and validation of the dizziness symptoms questionnaire in Thai‐outpatients. Braz J Otorhinolaryngol. 2022;88:779–5.
A revisão por pares é da responsabilidade da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico‐Facial.