Compartilhar
Informação da revista
Vol. 88. Núm. 5.
Páginas 780-786 (Setembro - Outubro 2022)
Compartilhar
Compartilhar
Baixar PDF
Mais opções do artigo
Visitas
2535
Vol. 88. Núm. 5.
Páginas 780-786 (Setembro - Outubro 2022)
Artigo original
Open Access
Desenvolvimento e validação do questionário de sintomas de tontura em pacientes tailandeses
Visitas
2535
Ravin Suvanicha,b, Uraiwan Chatchawana,b,
Autor para correspondência
pomuraiwan67@gmail.com

Autor para correspondência.
, Chanchai Jariengprasertc, Kwanchanok Yimtaed, Torkamol Hunsawonga,b, Alongkot Emasithic
a Khon Kaen Universiry, Research Center in Back, Neck, Other Joint Pain and Human Performance (BNOJPH), Khon Kaen, Tailândia
b Khon Kaen University, Faculty of Associated Medical Sciences, School of Physical Therapy, Khon Kaen, Tailândia
c Mahidol University, Faculty of Medicine Ramathibodi Hospital, Department of Otolaryngology, Bangkok, Tailândia
d Khon Kaen University, Khon Kaen Ear, Hearing, and Balance Research Center, Faculty of Medicine, Department of Otorhinolaryngology, Khon Kaen, Tailândia
Este item recebeu

Under a Creative Commons license
Informação do artigo
Resume
Texto Completo
Bibliografia
Baixar PDF
Estatísticas
Figuras (1)
Material adicional (1)
Resumo
Introdução

“Tontura’ é uma queixa comum na prática clínica que pode ocorrer com qualquer pessoa. No entanto, como o sintoma pode ser causado por uma grande quantidade de distúrbios, o clínico geral normalmente enfrenta alguma dificuldade em detectar sua causa.

Objetivo

Formular e validar um instrumento simples que pode ser usado para rastrear e predizer a causa mais provável de tontura em pacientes ambulatoriais tailandeses.

Método

Este estudo foi dividido em duas fases. A fase I consistiu em determinar o algoritmo, usaram‐se 41 pacientes com diagnóstico de causa comum de tontura, depois construir o questionário de algoritmo estrutural versão 1 (structural algorithm questionnaire version 1) e testar e retestar a validade de seu conteúdo e sua confiabilidade até que o instrumento apresentasse um nível aceitável de ambos. A fase II do estudo consistiu em avaliar a precisão do instrumento em ensaios clínicos, 150 pacientes com tontura foram pessoalmente entrevistados enquanto aguardavam o atendimento médico.

Resultados

O grau de concordância entre os resultados do algoritmo e os diagnósticos clínicos ficou dentro de um nível aceitável (κ=0,69). Portanto, esse algoritmo foi usado para construir o questionário de algoritmo estrutural versão 1. A validade de conteúdo do questionário foi avaliada por sete especialistas. Os valores do índice de validade de conteúdo do questionário variaram de 0,71 a 1,0. O coeficiente kappa de Cohen (κ) de confiabilidade intraexaminador foi de 0,71. Em estudos clínicos, 150 pacientes com tontura foram pessoalmente entrevistados enquanto aguardavam a consulta com o médico. A concordância geral entre as respostas ao questionário e os diagnósticos finais dos especialistas mostrou um grau moderado de acurácia clínica (κ=0,55).

Conclusões

O questionário de algoritmo estrutural versão 1teve um desenho bem desenvolvido e qualidade aceitável no que diz respeito à validade e confiabilidade. Pode ser usado para diferenciar a causa da tontura entre distúrbios vestibulares e não vestibulares, especialmente em pacientes ambulatoriais com sintomas de tontura.

Palavras‐chave:
Tontura
Sintomas vestibulares
Questionários
Texto Completo
Introdução

A tontura é a segunda queixa mais comum na prática clínica diária, com prevalência estimada ao longo da vida entre 20%–30%.1,2 A sensação, entretanto, é bastante subjetiva e possivelmente derivada de vários distúrbios, inclusive doenças vestibulares, cardiovasculares, neurológicas, metabólicas e psiquiátricas.3,4 Portanto, os médicos muitas vezes enfrentam alguma dificuldade de diagnosticar a causa da tontura.5 Aproximadamente três em cada quatro pacientes com queixa de tontura obtêm o diagnóstico correto apenas com base em seus dados clínicos.4,6 A anamnese desempenha um papel crucial na avaliação de pacientes com tontura.4,6–12 No entanto, essa é uma tarefa difícil. O próprio significado da palavra “tontura” é ambíguo e abrange várias sensações, tais como vertigem, desmaio, tontura, fraqueza ou instabilidade. Muitos pacientes tendem a ser incertos e não confiáveis13 ao descrever seus sintomas e as queixas geralmente envolvem ansiedade.9 Portanto, fazer o diagnóstico diferencial com base na descrição dos sintomas é bastante problemático nos setores de atenção primária.6 Em consequência, os pacientes ocasionalmente recebem diagnóstico inadequado ou tratamento insuficiente.14 De acordo com nossa revisão da literatura, alguns pesquisadores tentaram criar um questionário com base nos sintomas dos pacientes como uma ferramenta de diagnóstico diferencial. O poder preditivo variou de 60% a 84% nesses estudos.6,8,12,15,16 Todavia, os estudos anteriores foram formulados com o número de questões de autoadministração (entre 4–163 itens) e estão disponíveis apenas na língua inglesa.6,8,12,16,17 As diferentes interpretações da linguagem podem afetar a compreensão e as respostas dos pacientes. Além disso, nunca houve um relato ou publicação amplamente disponível sobre o uso do algoritmo de um questionário estruturado.

Portanto, nosso objetivo foi criar um questionário de entrevista, com o uso de uma abordagem de algoritmo para sugerir o possível diagnóstico de distúrbios vestibulares comuns em pacientes ambulatoriais tailandeses e, em seguida, avaliar sua confiabilidade e validade.

Método

Este estudo foi conduzido em dois ambientes de cuidados terciários de junho de 2018 a outubro de 2019. O protocolo do estudo foi revisado e aprovado pelo comitê de ética em pesquisa com seres humanos da Khon Kaen University (HE601466) e pelo comitê de pesquisa, Faculty of Medicine Ramathibodi Hospital, Mahidol University (MURA2017/915). Todos os participantes receberam uma explicação do propósito e procedimento do estudo e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. O estudo foi desenvolvido em duas fases: na primeira fase, o “questionário de algoritmo estrutural versão 1” (algorithm questionnaire version 1 ‐ SAQ‐1) foi desenvolvido e, na segunda fase, o teste‐reteste da confiabilidade e da acurácia diagnóstica do SAQ‐1 foi avaliado em pacientes com tontura (fig. 1).

Figura 1.

O fluxograma representa o processo do estudo. 1Avaliado em pacientes ambulatoriais com diagnóstico de causas comuns de tontura. 2Avaliado em pacientes ambulatoriais com novas queixas de tontura.

(0,25MB).
Fase I: Desenvolvimento do SAQ‐1Etapa I: Sequência algorítmica e validade aparente (face validity)

O SAQ‐1 é um questionário baseado em algoritmo estrutural, com o objetivo de ajudar os médicos a determinar a possível causa de tontura. O desenvolvimento do SAQ‐1 começou com a escolha de algoritmos com base nos preditivos de sintomas significativos, que consideram as razões de chance e modelos estatísticos, em estudos anteriores.6,8,16–19 A série de questões binárias foi então formulada de acordo com os algoritmos escolhidos. A sequência de perguntas foi referente ao curso do tempo, dos fatores desencadeantes e sintomas associados. O resultado final do questionário foi o diagnóstico hipotético com base nos critérios diagnósticos formulados pela comissão de classificação dos distúrbios vestibulares da Sociedade Bárány. A propriedade da sequência algorítmica e sua validade aparente para todas as questões foram aprovadas por dois otoneurologistas altamente experientes.

Etapa II: Validação do algoritmo

Para validar a sequência do algoritmo e o resultado final da versão preliminar do questionário baseado em algoritmo estrutural, o diagnóstico hipotético do questionário foi comparado ao diagnóstico clínico feito pelos otoneurologistas. Quarenta e um dos pacientes ambulatoriais com casos conhecidos de tontura e vertigem nos últimos seis meses foram recrutados para essa etapa. A estimativa do tamanho da amostra foi baseada em estudos anteriores.20,21 Todos os participantes foram entrevistados pessoalmente. Um nível de concordância de no mínimo 75% foi definido como aceitável para a validação do algoritmo.22,23

Etapa III: Estudo de validade de conteúdo

Após a validação da sequência do algoritmo, a validade de conteúdo do questionário foi avaliada. Sete especialistas, inclusive dois otoneurologistas, três otorrinolaringologistas, um fonoaudiólogo e um fisioterapeuta com mais de 10 anos de experiência clínica, foram convidados para julgar a relevância do SAQ‐1, com o uso do índice de validade de conteúdo (IVC). Esses especialistas foram solicitados a classificar a relevância de cada item com base em uma escala ordinal de quatro pontos (1=não relevante; 2=pouco relevante; 3=relevante; 4=altamente relevante). A relevância de cada item no questionârio SAQ‐1 foi calculada (índice de validade de conteúdo do item [I‐VCI]), bem como a relevância de todo o questionário SAQ‐1 (índice de calidade de conteúdo da escala [I‐VCE]). Os valores aceitáveis de IVCIs e IVCEs foram de no mínimo 0,78 e 0,90, respectivamente.24–27 Itens com valores inferiores ao limiar de I‐VCI de 0,78 foram revisados com base em discussões de especialistas.

Fase II: Teste‐reteste de confiabilidade e acurácia clínica

Para determinar a reprodutibilidade e a acurácia clínica do SAQ‐1, o diagnóstico hipotético do questionário foi comparado entre duas consultas e com o diagnóstico clínico feito por otoneurologistas experientes três meses após a consulta inicial.

Participantes

Pacientes tailandeses entre 18 e 65 anos com a primeira e recente crise de tontura ou vertigem nos últimos seis meses foram recrutados na clínica de otorrinolaringologia ambulatorial nos dois hospitais terciários: Ramathibodi Hospital e Srinagarind Hospital. Os recrutados deviam entender e se comunicar na língua tailandesa e desejarem participar do estudo. Foram excluídos aqueles que apresentavam afasia, deficiência cognitiva grave e deficiência mental ou outras condições que perturbassem sua capacidade de participar do processo de entrevista.

Procedimentos

Na primeira visita, os participantes elegíveis foram entrevistados pessoalmente por entrevistadores treinados com o uso do SAQ‐1 antes da consulta com seus médicos. Em seguida, os participantes foram solicitados a ser novamente entrevistados durante a consulta de acompanhamento, que variou entre duas a quatro semanas. Para investigar a acurácia diagnóstica do SAQ‐1, o diagnóstico hipotético do SAQ‐1 foi posteriormente comparado aos diagnósticos médicos de dois otoneurologistas experientes. Também seguiram os critérios diagnósticos baseados na comissão de classificação dos distúrbios vestibulares da Sociedade Bárány.

Análise estatística

O grau de concordância entre os resultados do algoritmo e o diagnóstico final na Etapa II foi determinado com o coeficiente de concordância de kappa da estatística de Cohen e um intervalo de confiança de 95%.

Na Fase II, a estatística descritiva foi usada para descrever as características demográficas dos participantes e a distribuição explorada dos diagnósticos. O coeficiente de concordância de kappa e um intervalo de confiança de 95% foram usados para determinar a confiabilidade do SAQ‐1 e o grau de concordância dos diagnósticos entre os resultados do questionário e dos otoneurologistas experientes (acurácia clínica).

Todos os dados foram analisados por meio do programa estatístico Stata versão 11.

ResultadosFase I: Desenvolvimento do SAQ‐1Etapa I: Sequência algorítmica e validade aparente

A versão preliminar do questionário baseado em algoritmo estrutural continha três domínios e 20 questões: três sobre o curso do tempo dos sintomas de tontura e vertigem, sete sobre os fatores desencadeantes e dez sobre os sintomas associados. A primeira pergunta a fazer a todos era se a tontura era episódica ou contínua. As perguntas seguintes variam de acordo com as respostas às perguntas anteriores. A sequência do algoritmo foi projetada para sugerir o diagnóstico hipotético. O número mínimo de perguntas para obtenção do diagnóstico foi de três e o máximo de 10. O tempo médio de entrevista foi de 15 minutos. O questionário baseado em algoritmo estrutural alocou os pacientes em grupos vestibulares ou não vestibulares. O grupo vestibular foi posteriormente dividido em vertigem postural paroxística benigna (VPPB), doença de Ménière (DM), migrânea vestibular (MV), vestibulopatia unilateral aguda e outros distúrbios vestibulares. O grupo não vestibular incluiu insuficiência vertebrobasilar (IVB), ataque isquêmico transitório (AIT), acidente vascular cerebral (AVC), doença de Parkinson (DP), ataxia, hipotensão postural, doença cardiovascular, ototoxicidade, tontura postural‐perceptual persistente (TPPP) e tontura multifatorial.

Etapa II: Validação do algoritmo

Quarenta e um dos pacientes ambulatoriais (sexo feminino/masculino=28/13 e idade=49,34±9,68 anos) foram recrutados para o estudo. Portanto, foram diagnosticados com causas comuns de tontura, n (%): VPPB=11 (26,83); DM=9 (21,95); MV=14 (34,15); vestibulopatia unilateral aguda=3 (7,32); outra causa vestibular periférica=2 (4,88) e causa não vestibular=2 (4,88).

Para validar o algoritmo, ao comparar as disfunções vestibulares específicas entre o diagnóstico feito por otoneurologistas experientes e o resultado da segunda versão do algoritmo, a concordância foi de 75,61% com coeficiente kappa de Cohen=0,69 (p <0,05).

Etapa III: Estudo de validade de conteúdo

A validade de conteúdo do SAQ‐1 (20 itens) revelou que os escores do I‐VCI variaram de 0,71 a 1,00. Apenas quatro questões (20%) sobre os fatores desencadeantes e sintomas associados precisaram de revisão, pois os escores do I‐VCI foram inferiores a 0,78. Por fim, o I‐VCE/Médio para a versão final do SAQ‐1 foi de 0,86. A tabela 1 apresenta a versão final do SAQ‐1.

Tabela 1.

A versão final do SAQ‐1

Item  Detalhes  Resposta
Q1  Ataque episódico  □ Sim  □ Não 
Q2  Ataque único  □ Sim  □ Não 
Q3  Tontura crônica  □ Sim  □ Não 
Q4  Desencadeado por um movimento específico da cabeça: deitado, rolando, curvando‐se, olhando para cima  □ Sim  □ Não 
Q5  Desencadeado pela mudança para a posição vertical: de deitado para sentar‐se, de sentado para ficar em pé  □ Sim  □ Não 
Q6  Desencadeado por movimentos não específicos ou em todas as posições da cabeça  □ Sim  □ Não 
Q7  Desencadeado por mudança de pressão: por exemplo, tosse‐espirro, levantamento de peso, Valsava, elevadores rápidos, aviões, mergulho, sons altos  □ Sim  □ Não 
Q8  Ocorreu após o início do trauma  □ Sim  □ Não 
Q9  Ocorreu após mudança de medicação: antibióticos, medicamentos para hipertensão, diabetes mellitus, dislipidemia, arritmia, anticonvulsivantes  □ Sim  □ Não 
Q10  Ocorreu após o início de infecção: febre, dor de cabeça, dor de ouvido  □ Sim  □ Não 
Q11  Apagões ou desmaio quando tonto  □ Sim  □ Não 
Q12  Associado a sintomas neurológicos  □ Sim  □ Não 
Q13  Associado a sintomas otológicos: perda auditiva, zumbido, plenitude auricular  □ Sim  □ Não 
Q14  Associado a flutuações na perda auditiva, zumbido, plenitude auricular  □ Sim  □ Não 
Q15  Associado à perda auditiva unilateral súbita  □ Sim  □ Não 
Q16  Associado à perda auditiva unilateral progressiva  □ Sim  □ Não 
Q17  Associado a problemas cervicais: dor no pescoço, movimentos limitados, artrite  □ Sim  □ Não 
Q18  Associado a sintomas de migrânea  □ Sim  □ Não 
Q19  Associado a sintomas cardiovasculares  □ Sim  □ Não 
Q20  Associado a estresse, ansiedade ou certas situações  □ Sim  □ Não 
Fase II: Teste‐reteste de confiabilidade e acurácia clínica

Foram convidados a participar do estudo 173 pacientes com queixas de tontura. Vinte e três deles se recusaram a participar, restaram 150 que concordaram em permanecer no estudo. A média de idade na consulta inicial era de 52,4±10,2 anos (variação de 25‐65), com 70% mulheres e 30% homens. A tabela 2 mostra as características demográficas e os diagnósticos de todos os pacientes.

Tabela 2.

Características dos participantes (pacientes ambulatoriais com novas queixas de tontura) e diagnósticos no estudo da fase II (n=150)

Características e diagnósticos  Total 
A) Características   
Idade, média±DP (anos)  52,4±10,2 
Gênero, n (%)   
Masculino  45 (30,0) 
Feminino  105 (70,0) 
Escolaridade, n (%)   
Ensino fundamental ou inferior  16 (10,7) 
Ensino médio  16 (10,7) 
Diploma  18 (12,0) 
Bacharelado  67 (44,7) 
Mestrado ou superior  32 (21,3) 
Outro  1 (0,7) 
Duração entre consultas, média±DP (dias)  24,8±12,9 
B) Categorias de diagnóstico, n (%)   
VPPB  39 (26,0) 
DM  14 (9,3) 
MV  23 (15,3) 
Vestibulopatia unilateral aguda  2 (1,3) 
Outro vestibular  28 (18,7) 
Não vestibular  31 (20,7) 
Inconclusivo  13 (8,7) 

VPPB, Vertigem posicional paroxística benigna; DM, Doença de Ménière; MV, Migrânea vestibular; SD, Desvio padrão.

Confiabilidade do teste‐reteste: 121 pacientes (80,67%) compareceram às duas consultas. O percentual geral de concordância das respostas ao questionário entre as duas consultas foi de 77,70% e o coeficiente kappa de Cohen foi de 0,71 (p <0,05), o que indicou concordância substancial (tabela 3).

Tabela 3.

Confiabilidade do teste‐reteste, do grau de concordância das respostas específicas ao questionário entre as consultas inicial e de acompanhamento (n=121)

Resultados da segunda consulta (n)  Resultados da primeira consulta (n)
  VPPB  DM  MV  Vestibulopatia unilateral aguda  Outro vestibular  Distúrbios não vestibulares  Total 
VPPB  26  31 
DM 
MV  19  26 
Vestibulopatia unilateral aguda 
Outro vestibular  11  18 
Distúrbios não vestibulares  29  35 
Total  27  13  24  17  38  121 

VPPB, Vertigem posicional paroxística benigna; DM, Doença de Ménière; MV, Migrânea vestibular; IC, Intervalo de confiança.

Percentual de concordância (95% CI)=77.70% (70.16–85.21)

Kappa de Cohen (95% CI)=0.71 (0.62–0.81)

Para validar a versão final do SAQ‐1 com o uso da consulta inicial como o “padrão de referência” deste estudo, o diagnóstico clínico final foi feito por otoneurologistas experientes três meses após a primeira consulta. Houve 13 pacientes com diagnóstico inconclusive. Portanto, 137 dos 150 pacientes (91,33%) permaneceram para análise de acurácia do estudo. O diagnóstico final de tontura foi amplamente categorizado em 106 (77,37%) distúrbios vestibulares e 31 (22,63%) distúrbios não vestibulares. Os diagnósticos finais e as características basais desses pacientes estão na tabela 4. A concordância geral do questionário foi de 64,23% e o coeficiente kappa de Cohen foi de 0,55 (p <0,05). VPPB apresentou o maior percentual de concordância, seguida por MV e distúrbios não vestibulares.

Tabela 4.

Acurácia clínica, grau de concordância das respostas específicas ao questionário (primeira consulta) e os diagnósticos clínicos feitos por otoneurologistas experientes para pacientes recém‐diagnosticados (n=137)

Resultados do questionário (n)  Diagnóstico clínico (n)
  VPPB  DM  MV  Vestibulopatia unilateral aguda  Outro vestibular  Distúrbios não vestibulares  Total 
VPPB  36  39 
DM  13 
MV  17  27 
Vestibulopatia unilateral aguda 
Outro vestibular  16 
Distúrbios não vestibulares  11  22  40 
Total  39  14  23  28  31  137 

VPPB, Vertigem posicional paroxística benigna; DM, Doença de Ménière; MV, Migrânea vestibular; IC, Intervalo de confiança; n, número de participantes.

Discussão

A anamnese é a primeira etapa importante para avaliar os pacientes com queixas de tontura. Tradicionalmente, a qualidade dos sintomas, como tontura, vertigem ou sensação de “cabeça vazia”, estava principalmente em foco.28 Essa abordagem, entretanto, não era prática, pois esses sintomas não são específicos e podem surgir tanto de condições vestibulares quanto não vestibulares. Então, a abordagem de tempo e fatores desencadeantes foi proposta e se tornou amplamente popular. Essa abordagem tem uma vantagem sobre a abordagem tradicional porque os pacientes podem explicar as características de seus sintomas de forma mais clara e precisa do que os tipos de sintomas.29–31 A sequência algorítmica do SAQ‐1 também foi baseada na abordagem de tempo e fatores desencadeantes. 32–34 Como a anamnese é uma parte essencial do processo diagnóstico, o SAQ‐1 visa auxiliar o processo de anamnese a ser mais sistemático, menos demorado e a chegar a um diagnóstico hipotético na primeira consulta. Vários questionários foram desenvolvidos ao longo dos anos.6,8,15–17,19 O número de perguntas variou de 4 a 163. Todos os questionários anteriores foram respondidos pelos próprios pacientes.6,8,15–17,19 Os participantes liam as perguntas e escolhiam a resposta mais apropriada para eles. O SAQ‐1, no entanto, consiste em perguntas de entrevista com roteiro. O entrevistador irá ler cada pergunta para os participantes e eles têm apenas duas opções de resposta: sim ou não. Portanto, se eles não entenderem claramente as perguntas, podem pedir mais explicações. A explicação complementar será lida para eles. O tempo de entrevista não ultrapassa 15 minutos. A depender do algoritmo, alguns chegarão ao diagnóstico em três perguntas, enquanto outros talvez precisem de 10 perguntas.

A acurácia clínica do SAQ‐1 foi satisfatória. O percentual de concordância entre o diagnóstico hipotético do questionário e o diagnóstico médico dos otoneurologistas foi relativamente substancial. Porém, houve 10% dos participantes que não alcançaram o diagnóstico final ou obtiveram diagnóstico inconclusivo. De acordo com os resultados do SAQ‐1, o diagnóstico possível de cinco indivíduos era vestibulopatia periférica, como doença de Ménière ou vestibulopatia recorrente, o de seis indivíduos era migrânea vestibular e o de dois indivíduos era causa não vestibular, como TPPP. A capacidade do SAQ‐1 para detectar o grupo vestibular é bastante grande. A capacidade de diferenciação dentro do grupo vestibular, entretanto, ainda precisa ser melhorada. A razão para isso é que alguns distúrbios vestibulares apresentam sintomas muito semelhantes e um tanto flutuantes.35 A migrânea vestibular e a DM são ataques episódicos com alguns sintomas sobrepostos. No que nos diz respeito, o SAQ‐1 atende adequadamente ao propósito de ser um questionário de triagem. Para obter o diagnóstico final, testes de função vestibular ainda são necessários.

Embora o estudo tenha alcançado seu objetivo, algumas limitações inevitáveis devem ser observadas. Em primeiro lugar, o tamanho da amostra foi menor do que esperávamos. Isso se deve a aproximadamente 20% de abandono e ao limite de tempo. É comum que pacientes com tontura não retornem para acompanhamento quando os sintomas desaparecem. Em segundo lugar, o SAQ‐1 processa apenas um único diagnóstico. Na realidade, muitos pacientes com tontura provavelmente apresentam condições multifatoriais. Os pacientes tendem a relatar apenas os sintomas dominantes.

Conclusão

O SAQ‐1 tem um desenho bem desenvolvido e qualidade aceitável tanto na validade quanto na confiabilidade. Ajuda os médicos a diferenciar a causa da tontura entre distúrbios vestibulares e não vestibulares, especialmente em pacientes ambulatoriais com sintomas vestibulares não agudos, crônicos ou recorrentes. Mais estudos devem ser feitos para testar o desempenho desse instrumento em diferentes ambientes clínicos, especialmente em setores de cuidados primários.

Financiamento

Research Center on the Back, Neck, Other Joint Pain and Human Performance (BNOJPH), Faculty of Associated Medical Sciences, Khon Kaen University.

Conflitos de interesse

Os autores declaram não haver conflitos de interesse.

Agradecimentos

A todos os indivíduos que participaram deste estudo. Especialmente aos especialistas em conteúdo por sua disposição de participar de um painel de especialistas em validade de conteúdo.

Referências
[1]
L. Murdin, A.G. Schilder.
Epidemiology of balance symptoms and disorders in the community: a systematic review.
Otol Neurotol., 36 (2015), pp. 387-392
[2]
M. Strupp, T. Brandt.
Diagnosis and treatment of vertigo and dizziness.
Dtsch Arztebl Int., 105 (2008), pp. 173-180
[3]
P. Gnerre, C. Casati, M. Frualdo, M. Cavalleri, S. Guizzetti.
Management of vertigo: from evidence to clinical practice.
Italian J Med., 9 (2015), pp. 13
[4]
R.M. Hoffman, D. Einstadter, K. Kroenke.
Evaluating dizziness.
Am J Med., 107 (1999), pp. 468-478
[5]
R. Geser, D. Straumann.
Referral and final diagnoses of patients assessed in an academic vertigo center.
Front Neurol., 3 (2012), pp. 169
[6]
L.T. Roland, D. Kallogjeri, B.C. Sinks, S.D. Rauch, N.T. Shepard, J.A. White, et al.
Utility of an Abbreviated Dizziness Questionnaire to Differentiate Between Causes of Vertigo and Guide Appropriate Referral: A Multicenter Prospective Blinded Study.
Otol Neurotol., 36 (2015), pp. 1687-1694
[7]
R.H. Labuguen.
Initial evaluation of vertigo.
Am Fam Physician., 73 (2006), pp. 244-251
[8]
J.G. Zhao, J.F. Piccirillo, E.L. Spitznagel Jr., D. Kallogjeri, J.A. Goebel.
Predictive capability of historical data for diagnosis of dizziness.
Otol Neurotol., 32 (2011), pp. 284-290
[9]
R.J. Tusa, R. Gore.
Dizziness and vertigo: emergencies and management.
Neurol Clin., 30 (2012), pp. 61-74
[10]
S. Dommaraju, E. Perera.
An approach to vertigo in general practice.
Aust Fam Physician., 45 (2016), pp. 190-194
[11]
F.L. Wuyts, V. Van Rompaey, L.K. Maes.
“SO STONED”: Common Sense Approach of the Dizzy Patient.
Front Surg., 3 (2016), pp. 32
[12]
G.P. Jacobson, E.G. Piker, K. Hatton, K.E. Watford, T. Trone, D.L. McCaslin, et al.
Development and Preliminary Findings of the Dizziness Symptom Profile.
Ear Hear., 40 (2019), pp. 568-576
[13]
Newman-Toker, L.M. Cannon, M.E. Stofferahn, R.E. Rothman, Y.H. Hsieh, D.S. Zee.
Imprecision in patient reports of dizziness symptom quality: a cross‐sectional study conducted in an acute care setting.
Mayo Clin Proc., 82 (2007), pp. 1329-1340
[14]
M. Strupp, M. Dieterich, T. Brandt.
The Treatment and Natural Course of Peripheral and Central Vertigo.
Dtsch Arztebl Int., 110 (2013), pp. 505-516
[15]
H. Karapolat, N. Celebisoy, F. Gokcay, C. Bilgen, G. Ozgen, S. Gode, et al.
Establishment and reliability test of a “Vertigo Council Diagnosis Questionnaire” for patients with chronic vestibular dysfunction: preliminary study.
Kulak Burun Bbogaz Ihtis Derg., 25 (2015), pp. 271-274
[16]
E. Kentala, S.D. Rauch.
A Practical Assessment Algorithm for Diagnosis of Dizziness.
Otolaryngol Head and Neck Surg., 128 (2003), pp. 54-59
[17]
E. Kentala.
Characteristics of six otologic diseases involving vertigo.
Am J Otol., 17 (1996), pp. 883-892
[18]
O. Bayer, J.C. Warninghoff, A. Straube.
Diagnostic indices for vertiginous diseases.
BMC Neurol., 10 (2010), pp. 98
[19]
D.R. Friedland, S. Tarima, C. Erbe, A. Miles.
Development of a Statistical Model for the Prediction of Common Vestibular Diagnoses.
JAMA Otolaryngol Head Neck Surg, 142 (2016), pp. 351-356
[20]
M.A. Hertzog.
Considerations in determining sample size for pilot studies.
Research in nursing & health. Apr, 31 (2008), pp. 180-191
[21]
S. Ravid, R. Bienkowski, L. Eviatar.
A simplified diagnostic approach to dizziness in children.
Pediatric Neurol Oct, 29 (2003), pp. 317-320
[22]
S.E. Stemler.
comparison of consensus A. consistency measurement approaches to estimating interrater reliability.
PARE., 9 (2004), pp. 1-19
[23]
N. Wongpakaran, T. Wongpakaran, D. Wedding, K.L. Gwet.
A comparison of Cohen's Kappa and Gwet's AC1 when calculating inter‐rater reliability coefficients: a study conducted with personality disorder samples.
BMC Med Res Methodol., 13 (2013), pp. 61
[24]
D.F. Polit, C.T. Beck.
The content validity index: are you sure you know what's being reported?. Critique and recommendations.
Res Nurs Health., 29 (2006), pp. 489-497
[25]
D.F. Polit, C.T. Beck, S.V. Owen.
Is the CVI an acceptable indicator of content validity?. Appraisal and recommendations.
Res Nurs Health., 30 (2007), pp. 459-467
[26]
D.F. Polit, F. Yang.
Measurement and the Measurement of Change: A Primer for the Health Professions.
Lippincott Williams & Wilkins, (2015),
[27]
V. Zamanzadeh, A. Ghahramanian, M. Rassouli, A. Abbaszadeh, H. Alavi-Majd, A.R. Nikanfar.
Design and Implementation Content Validity Study: Development of an instrument for measuring Patient‐Centered Communication.
J Caring Sci., 4 (2015), pp. 165-178
[28]
D.A. Drachman, C.W. Hart.
An approach to the dizzy patient.
Neurology., 22 (1972), pp. 323-334
[29]
J.A. Edlow.
Diagnosing dizziness: we are teaching the wrong paradigm! Acad Emerg Med., 20 (2013), pp. 1064-1066
[30]
K.A. Kerber, B.C. Callaghan, S.A. Telian, W.J. Meurer, L.E. Skolarus, W. Carender, et al.
Dizziness Symptom Type Prevalence and Overlap: A US Nationally Representative Survey.
Am J Med., 130 (2017),
[31]
V.A. Stanton, Y.H. Hsieh, C.A. Camargo Jr., J.A. Edlow, P.B. Lovett, J.N. Goldstein, et al.
Overreliance on symptom quality in diagnosing dizziness: results of a multicenter survey of emergency physicians.
Mayo Clin Proc., 82 (2007), pp. 1319-1328
[32]
A. Bisdorff.
Vestibular symptoms and history taking.
Handb Clin Neurol., 137 (2016), pp. 83-90
[33]
H.L. Muncie, S.M. Sirmans, E. James.
Dizziness: Approach to Evaluation and Management.
Am Fam Physician., 95 (2017), pp. 154-162
[34]
D.E. Newman-Toker, J.A. Edlow.
TiTrATE: A Novel Evidence‐Based Approach to Diagnosing Acute Dizziness and Vertigo.
Neurol Clin., 33 (2015), pp. 577-599
[35]
B.F. van Esch, E. van Wensen, H.J. van der Zaag-Loonen, P. Benthem, R.B. van Leeuwen.
Clinical Characteristics of Benign Recurrent Vestibulopathy: Clearly Distinctive From Vestibular Migraine and Meniere's Disease?.
Otol Neurotol., 38 (2017), pp. e357-e363

Como citar este artigo: Suvanich R, Chatchawan U, Jariengprasert C, Yimtae K, Hunsawong T, Emasithi A. Development and validation of the dizziness symptoms questionnaire in Thai‐outpatients. Braz J Otorhinolaryngol. 2022;88:779–5.

A revisão por pares é da responsabilidade da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico‐Facial.

Copyright © 2021. Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial
Idiomas
Brazilian Journal of Otorhinolaryngology
Opções de artigo
Ferramentas
Material Suplementar
en pt
Announcement Nota importante
Articles submitted as of May 1, 2022, which are accepted for publication will be subject to a fee (Article Publishing Charge, APC) payment by the author or research funder to cover the costs associated with publication. By submitting the manuscript to this journal, the authors agree to these terms. All manuscripts must be submitted in English.. Os artigos submetidos a partir de 1º de maio de 2022, que forem aceitos para publicação estarão sujeitos a uma taxa (Article Publishing Charge, APC) a ser paga pelo autor para cobrir os custos associados à publicação. Ao submeterem o manuscrito a esta revista, os autores concordam com esses termos. Todos os manuscritos devem ser submetidos em inglês.