Lemos com interesse o artigo “A relação entre equilíbrio tiol‐dissulfeto e perda auditiva neurossensorial súbita idiopática” publicado no BJORL1 e reconhecemos que a discussão sobre a atividade da paraoxonase (parágrafo 4) continha várias declarações factualmente imprecisas. Em primeiro lugar, os autores afirmam que paraoxonase e arilesterase são enzimas diferentes. A paraoxonase sérica humana (PON1) é classificada como uma arildialquilfosfatase (EC 3.1.8.1), tem a capacidade de hidrolisar vários substratos, inclusive lactonas, tiolactonas, pesticidas organofosforados triésteres e gases nervosos, aril‐ésteres, estrogênio‐ésteres, carbamatos cíclicos e glucuronídeos2 e tem um papel fisiológico em muitas doenças, como inflamação, intoxicação por organofosforados, metabolismo de drogas e doenças cardiovasculares.3 Uma série de experimentos elegantes conduzidos no laboratório do Prof. Bert La Du em Michigan, mais de 20 anos atrás, mostrou que em seres humanos a paraoxona e o fenilacetato eram substratos da mesma enzima, isto é, PON1. Esses estudos foram posteriormente confirmados por laboratórios em todo o mundo a níveis bioquímico, biológico molecular e genético molecular.2–4 A paraoxonase e a arilesterase são, portanto, duas atividades da PON1.
Em segundo lugar, os autores declararam erroneamente que a paraoxonase é um “produto do metabolismo lipídico” e “PON1 é um organofosforado”. No entanto, está claro na literatura que a paraoxonase é uma enzima que hidrolisa os lipídios oxidados.4 Portanto, PON1 não é um produto de oxidação de lipídios. Também não é um organofosforado; novamente, PON1 é uma enzima, os organofosforados são seus substratos.2–4
Por fim, os autores também afirmam que “níveis elevados de PON estão relacionados à aterosclerose”. A referência dada para justificar essa afirmação (citação 19 em Ref.1) é uma das nossas e podemos assegurar que o contrário é verdadeiro. A PON baixa está relacionada à aterosclerose.
Essas imprecisões podem parecer menores para aqueles que não atuam nesse campo; entretanto, elas são importantes e precisam ser corrigidas antes de ser amplamente divulgadas.
Conflitos de interesseOs autores declaram não haver conflitos de interesse.
DOI se refere ao artigo: https://doi.org/10.1016/j.bjorl.2021.08.009
Como citar este artigo: Mackness M, Sozmen EY. Misconceptions about paraoxonase‐1. Braz J Otorhinolaryngol. 2022;88:150.