A voz profissional é definida como a forma de comunicação oral utilizada por pessoas que dela dependem para sua atividade ocupacional.1 Aproximadamente um terço das profissões envolvem o uso da voz no trabalho.2 Profissionais da voz incluem além de cantores, atores e locutores, também professores, advogados, políticos, atendentes de telemarketing, vendedores, entre outros.
Especialmente nos grupos de cantores, atores e locutores, qualquer alteração vocal pode ter uma repercussão muito importante, tanto na esfera psicológica quanto na econômica, uma vez que o ganho financeiro advém do uso da voz.
Ao atendermos um profissional da voz, é fundamental nos atentarmos nos aspectos éticos e legais, como a postura de funcionários na recepção, e verificar quem poderá acompanhar a consulta. Ao falar com o paciente, é fundamental o cuidado com as palavras e sempre dar apoio. Em relação à equipe de produção, sempre se lembrar do sigilo médico. Em situações de um diagnóstico não favorável, a privacidade do paciente deve ser mantida.3 Carecemos em nosso país de uma legislação a respeito de alterações vocais, fundamentais, principalmente, para o grupo de professores, alvo de inúmeros trabalhos científicos.4 É necessário desenvolver legislação sobre as alterações vocais relacionadas ao trabalho da mesma forma que a existente para perda auditiva desenvolvida pela exposição ao ruído.
No início da pandemia da COVID‐19, o Conselho Federal de Medicina liberou a prática da tele atendimento, o que obviamente depende do adequado funcionamento da internet. Apesar de muito utilizado pelos fonoaudiólogos, a falta da avaliação estática e dinâmica da laringe e do trato vocal é um ponto crítico nessa prática. Muitas dúvidas ainda pairam sobre a segurança no uso profissional da voz na pandemia e no futuro próximo, apesar de muitas recomendações.5 O uso de teste do PCR para COVID‐19 antes da apresentação, orientações em relação aos ensaios, entre outras, mesmo factíveis, nem sempre correspondem à realidade que observamos. Entendemos que a telemedicina na laringologia é um tópico atual que merece maior discussão.
Profissionais da voz são alvo de inúmeras pesquisas nos últimos anos. Porém, alguns pontos ainda merecem ser aprofundados como a orientação sobre o repouso vocal (seja relativo ou absoluto) e o uso de corticoide. É importante lembrar que o estudo de profissionais da voz apresenta uma grande possibilidade de variáveis, quando comparado, por exemplo, com uma população com uma afecção laríngea específica, como a distonia focal laríngea.
Podemos dizer que o estado da arte em atender o profissional da voz pode ser definido como acolher o profissional, elaborar uma anamnese criteriosa, voltada, muitas vezes, à especificidade da sua queixa; considerar aspectos psicológicos e emocionais (principalmente nesse período de pandemia); fazer uma avaliação da voz, exame otorrinolaringológico, e, avaliação estática e dinâmica da laringe e do trato vocal. Nesta propedêutica, incluem‐se a nasofibrolaringoscopia, a laringoscopia e a estroboscopia. A avaliação funcional na qual o paciente pode “mostrar” exatamente onde está sua queixa, problema ou limitação sempre é fundamental. A prática multiprofissional envolve o fonoaudiólogo, professor de canto, diretor musical, preparador musical, entre outros.
Conflitos de interesseOs autores declaram não haver conflitos de interesse.
Como citar este artigo: Crespo A, Korn G. State‐of‐the‐art in professional voice. Braz J Otorhinolaryngol. 2022;88:153–4.
A revisão por pares é da responsabilidade da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico‐Facial.