Lemos com muito interesse o manuscrito de Drumond et al.,1 recentemente aceito para publicação na Revista Brasileira de Otorrinolaringologia, intitulado “Contagem de micronúcleos em células epiteliais nasais de pacientes com rinossinusite crônica e pólipos”. Neste artigo, os autores foram capazes de detectar altas frequências de micronúcleos nas células nasais de pacientes com rinossinusite quando comparados aos controles. Nesse sentido, conseguimos formular algumas perguntas para contribuir com o presente trabalho.
Nos Resultados, foi mencionado que “os MNs não estavam aumentados em pacientes com DREA (p=0,310). Também não houve associação entre cirurgia nasal nos últimos 5 anos e contagem de MNs (p=0,251)”. Do nosso ponto de vista, seria interessante apresentar esses dados no manuscrito, mesmo que não haja diferença estatística.
Neste estudo, o grupo experimental era mais velho do que o grupo controle. Diferenças estatisticamente significantes (p <0,05) foram encontradas entre os grupos. Levando em consideração que a frequência de micronúcleos aumenta com a idade, os autores justificam esse tratamento preferencial através de três referências na discussão, mas algumas delas não foram adequadamente interpretadas. Por exemplo, o artigo publicado por Squier e Kremer (número de referência 24) não investigou os micronúcleos nas células epiteliais esfoliadas.2 Além disso, o artigo publicado por Calderon‐Garciduenas (número de referência 26) não avaliou o ensaio de micronúcleos.3
Tolbert et al.4 introduziram algumas alterações metanucleares indicativas de citotoxicidade para o ensaio de micronúcleos em células esfoliadas, como picnose, cariólise e cariorrexe. A abordagem é importante porque a citotoxicidade é um fator de confusão para os estudos de mutagenicidade.5 Por exemplo, se a citotoxicidade está aumentada, a frequência dos micronúcleos diminui, porque as células micronucleadas são perdidas como resultado da morte celular. Portanto, seria interessante saber se, e até que ponto, os pacientes com rinossinusite apresentam citotoxicidade aumentada, bem como avaliar as consequências biológicas dessa na incidência de micronúcleos. Certamente, a citotoxicidade está presente na mucosa nasal de pacientes com rinossinusite crônica, porque essa condição patológica induz a morte celular como resultado do processo inflamatório.6
De qualquer maneira, os resultados deste estudo indicam claramente que indivíduos que sofrem de rinossinusite crônica têm alta frequência de micronúcleos nas células nasais. Isso significa que a instabilidade genômica está presente nesses pacientes. Está bem estabelecido que a instabilidade genômica desempenha um papel crucial na patogênese de doenças degenerativas crônicas, como o câncer. Por esse motivo, novos estudos que investigam danos cromossômicos, bem como morte celular em outros contextos e paradigmas nesses pacientes, são muito importantes para melhor compreender a patogênese da rinossinusite.
FinanciamentoDAR é beneficiário de bolsa de produtividade do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) (número de concessão 001).
Conflitos de interesseOs autores declaram não haver conflitos de interesse.
Como citar este artigo: Souza AC, Prado CM, Ribeiro DA. Evaluation of cytogenetic damage in exfoliated nasal epithelial cells contributes to a better understanding the pathogenesis of rhinosinusitis. Braz J Otorhinolaryngol. 2020;86:268–9.