Lemos o artigo de Caporrino Neto J et al., que nos atenta para a diversidade clínica da amioidose laríngea, variante localizada da amiloidose, que representa até 1% dos tumores benignos da laringe.1
Gostaríamos de destacar a importância da avaliação de toda a via aérea nos casos de amiloidose aerodigestiva.
Demonstramos um caso de um homem de 52 anos com disfonia havia 7 meses. Negava dispneia e não apresentava comorbidades. Exame físico, prova de função pulmonar e tomografia computadorizada (TC) de pescoço e tórax sem alterações.
Durante laringoscopia direta observaram‐se lesões infiltrativas amareladas em nasofaringe e epiglote (fig. 1A e B) sugestivas de amiloidose. Devido às alterações encontradas optou‐se pela avaliação da árvore traqueobrônquica, foram visualizadas lesões semelhantes em toda a extensão da traqueia (Fig. 1C) e nos subsegmentos brônquicos (Fig. 1D). Biópsias das lesões da epiglote e do brônquio principal direito confirmaram o diagnóstico de amiloidose laringotraqueobrônquica (ALTB).
A ALTB primária é uma doença rara caracterizada por placas ou nódulos submucosos de depósitos de amiloide que podem ser localizados ou multifocais nas vias aéreas. Representa apenas 0,5% de todas as lesões traqueobrônquicas sintomáticas e raramente está associada com amiloidose sistêmica.2–4
Os sintomas são inespecíficos, como tosse, dispneia, sibilância, hemoptise e disfonia podem atrasar o diagnóstico ou confundir com outras doenças respiratórias. A prova de função pulmonar e a tomografia de pescoço e tórax podem ser normais.4,5
A visualização endoscópica é a principal ferramenta diagnóstica e a biópsia é o padrão‐ouro para o diagnóstico.5 Depósitos amiloides extracelulares homogêneos, amorfos eosinofílicos e birrefrigência esverdeada à microscopia de polarização na coloração de Vermelho de Congo confirmam o diagnóstico.5
Apesar de não ser estreitamente associada à amiloidose sistêmica, essa deve ser afastada com eletroforeses de soro e urina para detecção de proteínas monoclonais junto com ecocardiograma para investigação de cardiomiopatia secundária à deposição de amiloide.4,5
Não existe tratamento específico. Exérese mecânica, dilatação por balão, stent, coagulação com plasma de argônio, laser, crioterapia e eletrocautério e traqueostomia são opções descritas para o tratamento dos pacientes sintomáticos.3–5
Em conclusão, a ALTB é uma doença rara que deve ser considerada em pacientes com sintomas subagudos de obstrução de vias aéreas sem resposta adequada ao tratamento e deve ser investigada nos pacientes que apresentam a amiloidose aerodigestiva. O método diagnóstico de escolha é a endoscopia respiratória com a identificação de lesões amareladas infiltrativas e o diagnóstico definitivo é pela biópsia das lesões.
Conflitos de interesseOs autores declaram não haver conflitos de interesse.