O S‐point de Stamm tem ganhado importância como foco de sangramento na epistaxe grave. Entretanto, a prevalência e as características do sangramento no S‐point em comparação com o sangramento em outros locais ainda não foram estudadas.
ObjetivoInvestigar as características dos pacientes com epistaxe grave com sangramento no S‐point e comparar os fatores envolvidos no tratamento da epistaxe.
MétodoAnalisamos retrospectivamente os prontuários médicos de 268 pacientes internados no Departamento de Otorrinolaringologia do Konkuk University Hospital e do Chung‐Ang University Hospital com epistaxe cujo foco hemorrágico foi esclarecido. Pacientes com sangramento anterior (n=129) foram excluídos. O estudo foi feito no Departamento de Otorrinolaringologia de janeiro de 2008 a agosto de 2019. Os dados coletados incluíram informações demográficas dos pacientes, foco hemorrágico, índice de massa corporal doenças médicas e nasosinusais subjacentes, resultados de exames laboratoriais (hemoglobina, contagem de plaquetas e nível de triglicerídeos iniciais), uso de anticoagulantes, direção da epistaxe, tratamentos iniciais e finais e necessidade de transfusão de sangue.
ResultadosA prevalência de sangramento no S‐point foi de 28,8% dos casos de sangramento não anterior. O índice de massa corpórea médio foi menor no grupo com sangramento no S‐point (23,41± 3,71) em comparação com o grupo não S‐point (24,93±3,97) (p=0,039). Pacientes com baixo peso tenderam a apresentar maior incidência de sangramento no S‐point (15,0%) do que sangramento em ponto não S (2,0%) (p=0,010). A incidência de anemia foi maior no grupo com sangramento no S‐point (67,5%) do que no grupo não S‐point (36,4%). A anemia (odds ratio [OR]: 3,635; intervalo de confiança de 95% [IC95%]: 1,669‐7,914, p=0,001) e o baixo peso (IMC <18,5, OR: 8,559, IC95%: 1,648‐44,445, p=0,011) foram significantemente associados com sangramento no S‐point.
ConclusãoA prevalência de sangramento no S‐point foi significativa, enfatizou a importância de examinar o S‐point em pacientes com epistaxe grave. Pacientes com sangramento no S‐point apresentaram escores mais baixos no índice de massa corpórea e maior incidência de anemia do que aqueles com sangramento em locais que não o S‐point.
A epistaxe é uma queixa comum e um dos motivos mais comuns de consultas no pronto atendimento em otorrinolaringologia; 60% das pessoas apresentam epistaxe e 6% delas necessitam de atendimento médico.1 Epistaxe grave é menos comum. Entretanto, como a epistaxe grave é potencialmente fatal, o tratamento de urgência no departamento de otorrinolaringologia, inclusive hospitalização, é necessário em até 4% dos casos.2
A definição de epistaxe grave é controversa. Entretanto, a epistaxe que requer cirurgia, intervenção ou transfusão de sangue pode ser definida como epistaxe grave. Sabe‐se que a epistaxe grave se origina de sangramentos nasais posteriores, mas o foco do sangramento original não é identificado em até 50% dos casos de epistaxe grave ou de epistaxe recorrente.3,4 O tratamento cirúrgico usual para epistaxe grave envolve a cauterização dos ramos da artéria esfenopalatina (AEP) ou ligadura da AEP e tem uma alta taxa de sucesso. Entretanto, algumas vezes é necessária uma abordagem que envolve a artéria etmoidal anterior (AEA).3
Embora a AEP seja um foco de sangramento mais comum na epistaxe grave do que a AEA, a porção superior do septo, que recebe sangue da AEA, é um sítio importante de epistaxe grave. O sangramento que se origina da AEA pode ser sangramento espontâneo, sangramento pós‐cirurgia sinusal ou sangramento traumático. Recentemente, Kosugi et al. definiram o S‐point de Stamm como um ponto de sangramento do pedículo vascular arterial no septo nasal superior, ao redor da axila da concha média, posterior ao corpo septal (fig. 1).2
A intervenção endoscópica apresenta vários benefícios no controle da epistaxe grave em muitos pacientes. Entretanto, o exame endoscópico preciso não é fácil durante o sangramento ativo. O septo nasal superior e consequentemente o S‐point podem ser difíceis de ser acessados endoscopicamente devido à sua localização muito superior na cavidade nasal. Durante o sangramento ativo, o sangue flui posterior e lateralmente, o que pode ser diagnosticado incorretamente como sangramento posterior.2 Entretanto, a prevalência de sangramento no S‐point que pode ser diagnosticado incorretamente como sangramento posterior e as suas características, comparadas a sangramento em locais que não o S‐point, ainda não foram estudadas.
O objetivo deste estudo foi investigar a prevalência e as características de pacientes com sangramento no S‐point nos pacientes admitidos com epistaxe grave e comparar os fatores envolvidos no tratamento da epistaxe.
MétodoAmostraUma revisão retrospectiva do prontuário foi feita em 268 pacientes internados nos Departamentos de Otorrinolaringologia do Konkuk University Hospital e do Chung‐Ang University Hospital (ambos hospitais terciários), com diagnóstico de epistaxe cujo foco hemorrágico foi esclarecido. O número de pacientes cujo foco hemorrágico não havia sido claramente identificado compreendeu 30 indivíduos. Portanto, esses 30 pacientes não foram incluídos na coleta de dados. Os dados foram coletados de janeiro de 2008 a agosto de 2019. Os pacientes com diagnóstico de sangramento nasal anterior (por ex., do plexo de Kiesselbach e da área de Little) foram excluídos. O grupo de estudo (grupo com sangramento no S‐point) incluiu pacientes com foco do sangramento no septo nasal superior (suspeita de sangramento no S‐point). O grupo controle (o grupo com sangramento não S‐point) incluiu pacientes nos quais o septo nasal superior não foi identificado como o foco do sangramento. Os dados coletados incluíram informações demográficas dos pacientes, foco hemorrágico, índice de massa corporal (IMC), doenças médicas e nasosinusais subjacentes, resultados de exames laboratoriais (hemoglobina, contagem de plaquetas e nível de triglicérides iniciais), uso de anticoagulantes, direção da epistaxe, tratamentos inicial e final e necessidade de transfusão de sangue.
Análise estatísticaO teste t independente foi usado para comparações dos dados da escala de intervalo. Os testes de qui‐quadrado, teste exato de Fisher e análise de regressão foram feitos para comparações dos dados categóricos. A significância estatística foi estabelecida com um valor de p de 0,05. O programa da IBM SPSS Statistics versão 25.0 (IBM Co., Armonk, NY, EUA) foi usado para o teste de significância. Para todos os testes estatísticos, um valor de p <0,05 foi considerado estatisticamente significativo.
ResultadosPrevalência e distribuição demográficaDurante o período de 11 anos do estudo, 268 pacientes foram admitidos em dois centros médicos por epistaxe. Desses, 139 pacientes (51,9%) com sangramento não anterior foram incluídos no estudo. Quarenta pacientes (28,8%) foram incluídos no grupo com sangramento no S‐point e 99 (71,2%) foram incluídos no grupo não S‐point. Em nosso estudo, os pontos de sangramento de 51,9% dos pacientes que foram hospitalizados por epistaxe eram locais, não anteriores. A prevalência de sangramento no S‐point no caso de sangramento não anterior foi de 28,8%. A distribuição etária dos pacientes deste estudo é mostrada na figura 2. A distribuição etária não foi desviada e a diferença na distribuição etária não foi estatisticamente significante (p=0,254). Ambos os grupos demonstraram predominância masculina. A média de idade (média±desvio‐padrão) foi de 55,90±13,8 no grupo de sangramento no S‐point e 51,54±16,0 no grupo não S‐point, mas a diferença não foi estatisticamente significante (p=0,132) (tabela 1).
A comparação das características dos pacientes do grupo S‐point e do grupo não S‐point é mostrada na tabela 2. Hipertensão foi observada em 32,5% (n=13) dos pacientes do grupo S‐point e em 38,4% (n=38) dos pacientes do grupo não S‐point. Observou‐se diabetes mellitus em 12,5% (n=5) dos pacientes do grupo S‐point e em 6,1% (n=6) dos pacientes no grupo não S‐point. Eram usuários de anticoagulantes 10% (n=4) dos pacientes do grupo S‐point e 10,1% (n=10) dos pacientes do grupo não S‐point. Observou‐se sangramento no lado esquerdo em 55% (n=22) e 58,6% (n=58) dos pacientes do grupo S‐point e não S‐point, respectivamente. Doenças nasosinusais, como desvio do septo e rinossinusite, foram encontradas em 50% (n=20) dos pacientes no grupo com sangramento no S‐point e em 40,4% (n=40) dos pacientes do grupo não S‐point. Dislipidemia foi observada em 7,5% (n=3) dos pacientes no grupo S‐point e em 11,1% (n=11) dos pacientes do grupo não S‐point. Trombocitopenia foi observada em 2,5% (n=1) e 3% (n=3) dos pacientes no grupo com sangramento no S‐point e no grupo não S‐point, respectivamente. Entretanto, nenhuma dessas características demonstrou diferença estatisticamente significante.
Características e tratamentos do sangramento no S‐point e não S‐point
Características | Sangramento no S‐point (n=40) | Sangramento ponto não S‐point (n=99) | p‐valor |
---|---|---|---|
HA | 13 (32,5%) | 38 (38,4%) | 0,515 |
DM | 5 (12,5%) | 6 (6,1%) | 0,203 |
Anticoagulantes | 4 (10,0%) | 10 (10,1%) | 1 |
Direção | 0,699 | ||
Esquerda | 22 (55,0%) | 58 (58,6%) | |
Direita | 18 (45,0%) | 41 (41,4%) | |
Doença nasosinusal | 20 (50,0%) | 40 (40,4%) | 0,301 |
Dislipidemia | 3 (7,5%) | 11 (11,1%) | 0,757 |
Trombocitopenia | 1 (2,5%) | 3 (3,0%) | 1 |
Tratamento inicial | 0,550 | ||
Tamponamento nasal | 20 (50,0%) | 57 (57,6%) | |
Cauterização (A/L) | 10 (25,0%) | 25 (25,3%) | |
Observação | 10 (25,0%) | 17 (17,2%) | |
Tratamento final | 0,763 | ||
Tamponamento nasal | 3 (7,5%) | 12 (12,1%) | |
Cauterização (A/L) | 10 (25,0%) | 17 (17,2%) | |
Observação | 7 (17,5%) | 18 (18,2%) | |
Cauterização (A/G) | 17 (42,5%) | 40 (40,4%) | |
Embolização | 3 (7,5%) | 12 (12,1%) |
L/A, Anestesia local; G/A, Anestesia geral. HA, Hipertensão arterial; DM, Diabetes mellitus.
Uma análise de regressão univariada foi feita para identificar o risco de sangramento no S‐point. Os resultados são apresentados na tabela 3. Anemia (odds ratio [OR=3,635]; Intervalo de confiança de 95% [IC 95%: 1.669‐7.914], p=0,001) e baixo peso (IMC <18,5, OR=8,559, IC95%: 1,648−44,445, p=0,011) mostraram associação significante com sangramento no S‐point. Outras características não mostraram associação estatisticamente significante.
Análise de regressão logística univariada do sangramento no S‐point
OR (IC95%) | p‐valor | |
---|---|---|
Anemia | 3,635 (1,669−7,9140) | 0,001a |
Baixo peso | 8,559 (1,648−44,445) | 0,011a |
HA | 0,773 (0,356−1,679) | 0,515 |
DM | 2,214 (0,635−7,720) | 0,212 |
Anticoagulantes | 0,989 (0,291−3,358) | 0,986 |
Direção | 1,157 (0,552−2,426) | 0,699 |
Doença nasosinusal | 1,475 (0,705−3,087) | 0,302 |
Dislipidemia | 0,649 (0,171−2,460) | 0,525 |
Trombocitopenia | 0,821 (0,083−8,131) | 0,866 |
OR, odds ratio; IC95%, Intervalo de confiança de 95%. HA, Hipertensão arterial; DM, Diabetes mellitus.
Baixo peso, BMI <18,5.
O tamponamento nasal foi o tratamento inicial em 50% (n=20) dos pacientes com sangramento no S‐point e em 57,6% (n=57) dos pacientes com sangramento não S‐point. A cauterização elétrica bipolar sob anestesia local foi feita em 25,0% (n=10) e 25,3% (n=25) dos pacientes no grupo com sangramento no S‐point e no grupo não S‐point, respectivamente. A observação foi o tratamento inicial em 25% (n=10) e 17,2% (n=17) dos pacientes no grupo com sangramento no S‐point e no grupo não S‐point, respectivamente. A diferença no tratamento inicial não foi estatisticamente significante entre os grupos (p=0,550) (tabela 2).
Os tratamentos finais para os dois grupos são mostrados na tabela 2. A cauterização sob anestesia local foi feita em 25,0% (n=10) e 17,2% (n=17) dos pacientes no grupo com sangramento no S‐point e não S‐point respectivamente. Foram submetidos a cauterização sob anestesia geral para tratamento final 42,5% (n=17) e 40,4% (n=40) dos pacientes do grupo com sangramento no S‐point e não S‐point, respectivamente. A cauterização foi o tratamento final mais comum em ambos os grupos e a diferença entre os dois grupos não foi estatisticamente significante (p=0,763).
No caso dos 30 pacientes cujo foco hemorrágico não foi identificado, se não houvesse sangramento ativo, optou‐se por acompanhamento e observação; e na presença de sangramento ativo, foi feito tamponamento nasal.
Relação entre sangramento em S‐point e IMCA diferença na distribuição do IMC para os dois grupos é apresentada na tabela 4. Observou‐se baixo peso (IMC <18,5) em 15,0% (n=6) dos pacientes no grupo com sangramento no S‐point e em 2,0% (n=2) dos os pacientes no grupo não S‐point. O IMC estava dentro da faixa normal (18,5 a 23) em 20,0% (n=8) dos pacientes com sangramento no S‐point e em 28,3% (n=28) dos pacientes do grupo não S‐point. Sobrepeso (IMC: 23‐25) foi observado em 30,0% (n=12) e 19,2% (n=19) dos pacientes e obesidade (IMC> 25) foi observada em 35,0% (n=14) e 50,5% (n=50) dos pacientes no grupo com sangramento em S‐point e não S‐point, respectivamente. A diferença na distribuição do IMC foi estatisticamente significante (p=0,010). A tabela 5 mostra que a média do IMC também foi diferente entre os grupos (23,41±3,71 vs. 24,93±3,97 no grupo S‐point e no grupo não S‐point, respectivamente).
IMC e grau de anemia nos grupos com sangramento no S‐point e não S‐point
Sangramento no S‐point(n=40) | Sangramento não S‐point(n=99) | p‐valor | |
---|---|---|---|
IMC | 0,010a | ||
Baixo peso (IMC <18,5) | 6 (15,0%) | 2 (2,0%) | |
Normal (IMC de 18,5 a 23) | 8 (20,0%) | 28 (28,3%) | |
Sobrepeso (IMC de 23 a 25) | 12 (30,0%) | 19 (19,2%) | |
Obesidade (IMC> 25) | 14 (35,0%) | 50 (50,5%) | |
Anemia | 0,001a | ||
Nível de Hb normal | 13 (32,5%) | 63 (63,6%) | |
Anemia | 27 (67,5%) | 36 (36,4%) | |
Grau de anemia | <0,001a | ||
Hb Normal | 13 (32,5%) | 63 (63,6%) | |
Anemia leve | 24 (60,0%) | 24 (24,2%) | |
Anemia moderada | 3 (7,5%) | 7 (7,1%) | |
Anemia grave | 0 (0%) | 5 (5,1%) |
IMC, Índice de Massa Corporal; Hb, Hemoglobina.
Hb normal, Hb 12,0 a 16,0g/dL para mulheres e 14,0 a 18,0g/dL para homens; Anemia leve, Hb 10g/dL até níveis dentro dos limites normais; Anemia moderada, Hb 8‐10g/dL; Anemia grave, Hb 6,5‐7,9g/dL.
Nível inicial médio de hemoglobina e IMC nos grupos com sangramento no S‐point e não S‐point
Sangramento no S‐point(n=40) | Sangramento não S‐point(n=99) | p‐valor | |
---|---|---|---|
Nível de Hb inicial | 12,69 (±1,99) | 13,16 (±2,37) | 0,266 |
IMC | 23,41 (±3,71) | 24,93 (±3,97) | 0,039a |
Hb, Hemoglobina; IMC, Índice de massa corpórea.
Anemia foi observada em 67,5% (n=27) dos pacientes no grupo S‐point e em 36,4% (n=36) dos pacientes no grupo não S‐point (tabela 4). A diferença foi estatisticamente significante (p=0,001). Especificamente, a incidência de anemia leve (60,0% vs. 24,2% no grupo com sangramento no S‐point e não S‐point, respectivamente), anemia moderada (7,5% vs. 7,1%) e anemia grave (0% vs. 5,1%) apresentaram diferença estatisticamente significante (p <0,001). A incidência de anemia, especialmente a de anemia leve, foi maior no grupo S‐point do que no grupo não S‐point. O nível médio de hemoglobina inicial foi de 12,69±1,99 no grupo com sangramento no S‐point e 13,16±2,37 no grupo não S‐point. Entretanto, essa diferença não foi estatisticamente significante (p=0,266) (tabela 5).
DiscussãoA epistaxe é um dos motivos mais comuns de atendimento no departamento de otorrinolaringologia com necessidade de tratamento de emergência.1 Atualmente, o exame endoscópico tornou possível avaliar a cavidade nasal com maior precisão. É importante identificar o foco preciso do sangramento durante o tratamento da epistaxe, especialmente em casos graves, pois esses casos precisam de cuidados urgentes. A localização do sangramento nos casos de epistaxe grave é controversa. Entretanto, estudos anteriores demonstraram que o septo nasal era um foco de sangramento relativamente comum na epistaxe grave.4,5 Atualmente, o S‐point tem ganhado importância como foco de sangramento na epistaxe grave. Devido à sua natureza arterial, o sangramento no S‐point pode ser erroneamente identificado como epistaxe posterior, como a que se origina da AEP.2 Portanto, identificar as características dos pacientes com epistaxe grave, classificadas de acordo com o foco do sangramento, pode ser benéfico na previsão do foco preciso do sangramento.
Neste estudo, investigamos a taxa de prevalência do sangramento no S‐point e as características associadas do paciente, como comorbidades, obesidade, anemia, hipertensão, diabetes e dislipidemia, e as comparamos com as características associadas ao sangramento em outros locais. Um estudo anterior demonstrou que 6% dos pacientes com epistaxe requerem cuidados médicos6 e 5% de todos os pacientes hospitalizados ou que foram tratados no pronto‐socorro devido à epistaxe tinham foco posterior de sangramento nasal.7 Em um estudo anterior, a distribuição etária dos pacientes internados por epistaxe era desviada para a esquerda.8 Neste estudo, a distribuição etária não estava desviada, embora a diferença não tenha sido estatisticamente significante.
Pudemos avaliar a prevalência do sangramento no S‐point nos casos de suspeita de sangramento posterior grave (28,8% dos casos de sangramento não anterior). Os resultados sugerem que o S‐point é um local frequente de epistaxe grave. E este estudo revelou que comorbidades como hipertensão, diabetes e dislipidemia não contribuíram significativamente para o sangramento no S‐point. Estudos anteriores confirmaram que esses fatores estão relacionados à epistaxe.9 No entanto, esses estudos foram diferentes do nosso, porque avaliaram todos os tipos de epistaxe. Kosugi et al.2 identificaram as características dos pacientes com sangramento no S‐point, mas não encontraram diferenças quando comparados àqueles com sangramento em outros locais. Recentemente, Loures et al.10 relataram que o S‐point era o local mais comum de sangramento na epistaxe grave e identificaram que a prevalência era de 28,3% como fonte de epistaxe grave. Embora nosso estudo tenha um desenho retrospectivo, nossa taxa de prevalência foi semelhante à taxa daquele estudo.
Este estudo constatou que o IMC do grupo com sangramento no S‐point mostrou uma diferença significante quando comparado com o IMC do grupo não S‐point. O IMC médio do grupo com sangramento no S‐point foi inferior ao do grupo não S‐point. O baixo peso apresentou uma tendência a mostrar uma maior associação com sangramento no S‐point do que com o sangramento não S‐point. Portanto, quando os médicos examinam pacientes com epistaxe grave clinicamente, pode ser útil examinar cuidadosamente o S‐point em pacientes com baixo peso. Por outro lado, se o paciente for obeso, pode ser útil verificar um foco posterior de sangramento. Um estudo anterior revelou que a epistaxe estava associada positivamente à obesidade.11 No entanto, esse estudo foi diferente do nosso, pois incluía pacientes com todos os tipos de epistaxe e sangramento nasal posterior. Além disso, não houve estudo prévio sobre a relação entre IMC e epistaxe.
A incidência de anemia, especialmente a de anemia leve, foi maior no grupo com sangramento no S‐point do que no grupo não S‐point. No nosso estudo, uma maior proporção de pacientes tinha anemia em comparação com estudo anterior que revelou que 18,5% dos pacientes com epistaxe posterior tinham um nível de hemoglobina menor do que 12g/dL.12 Sugerimos que a anemia leve provavelmente seja o resultado de sangramento residual que não foi tratado completamente durante os cuidados iniciais. Esse achado pode indicar que os cuidados primários antes do paciente vir ao nosso hospital não foram adequados, pois o S‐point está localizado no septo superior e é de difícil visualização inicial. Se a origem do sangramento for identificada, o sangramento pode ser controlado por cauterização elétrica. Neste estudo, a cauterização foi o tratamento mais comum nos dois grupos. Portanto, o exame endoscópico de rotina do S‐point em pacientes com epistaxe grave pode obter bons resultados de tratamento.
A endoscopia nasal ajuda a visualizar o local exato do sangramento e a tratar a epistaxe originada em uma área que não é facilmente acessível.13 O desenvolvimento de técnicas endoscópicas nasais levou à localização e cauterização precisas do ponto de sangramento e vários autores descreveram essa técnica para tratar com sucesso os casos de epistaxe.14,15 Neste estudo, a cauterização elétrica foi o tratamento final mais comum para pacientes em ambos os grupos. Isso enfatiza a importância de identificar o foco preciso do sangramento para tratar a epistaxe, pois a localização do foco preciso do sangramento deve preceder a cauterização elétrica adequada.
Este estudo tem algumas limitações. Foi um estudo retrospectivo e dependeu das descrições nos prontuários médicos para localizar o foco do sangramento. No passado, o S‐point não era considerado um foco frequente de sangramento e não era verificado rotineiramente. Portanto, é possível que o foco exato do sangramento não tenha sido identificado em alguns pacientes. Além disso, a obtenção do histórico de doenças subjacentes pode ter sido insuficiente. Adicionalmente, se o paciente for submetido ao tamponamento nasal como abordagem inicial em instituições primárias e secundárias, isso pode dificultar a identificação precisa do local do sangramento e, portanto, limitar a classificação em dois grupos.
Apesar dessas limitações, acreditamos que nosso estudo possa contribuir para identificar o foco correto do sangramento na epistaxe grave. Embora estudos anteriores tenham identificado o local específico de sangramento septal superior e suspeitado que poderia ser um local frequente de epistaxe, nosso estudo determinou as taxas de prevalência e os riscos de sangramento no S‐point.
ConclusãoA prevalência de sangramento no S‐point foi de 28,8% dos casos de sangramento não anterior em nosso estudo e parece ser significativa. Pacientes com sangramento no S‐point apresentaram IMC mais baixo do que aqueles com sangramento não S‐point e pacientes com baixo peso apresentaram maior risco de sangramento no S‐point. O sangramento no S‐point mostrou associação significante com anemia, o que pode ser resultado do tratamento primário inadequado. Esperamos que um exame cuidadoso do S‐point em pacientes com epistaxe grave, especialmente em pacientes com baixo peso, possa aumentar o sucesso do tratamento.
Declaração de disponibilidade de dadosOs dados que corroboram as conclusões deste estudo estão disponíveis através do autor para correspondência, mediante solicitação razoável.
Considerações éticasEste estudo foi aprovado pelo Conselho de Ética Institucional do Konkuk University Hospital (Aprovação n° 2019‐08‐012‐003) e pelo Conselho de Ética Institucional do Chung‐Ang Universtiy Hospital (Aprovação n° 1912‐023‐19296).
FinanciamentoEsta pesquisa recebeu apoio financeiro do Basic Science Research Program através do National Research Foundation of Korea (NRF), financiado pelo Ministério da Educação (NRF‐2016R1D1A1B01‐ 012705, NRF‐2016R1A5A2012284).
Conflitos de interesseOs autores declaram não haver conflitos de interesse.
Como citar este artigo: Jeong H, Choi B, Lee J, Kim KS, Min SJ, Kim JK. Prevalence and characteristics of S‐point bleeding compared to non S‐point bleeding in severe epistaxis. Braz J Otorhinolaryngol. 2021;87:462–8.
A revisão por pares é da responsabilidade da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico‐Facial.