O editorial “O futuro... a quem pertence?”’1 suscita duas reflexões sobre nossa prática profissional.
A primeira, estimulada pelo colega Marcio Abrahão, refere‐se à carga tributária brasileira. O Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Federal estima que o crime de sonegação custou ao Brasil, só em 2015, mais de R$ 420 bilhões – sete vezes mais do que o custo anual da corrupção. Portanto, não há como alcançar algum alívio para o bolso dos contribuintes honestos e cumpridores pontuais dos seus deveres sem reforma tributária, coibição da sonegação e punição dos sonegadores.2 Se indivíduos e empresas não sonegarem impostos, então será possível reduzir as alíquotas e a carga tributária pesará menos sobre cada um de nós. Por isso, endossando o editorial sobre o papel das instituições médicas na cena política nacional, na qual a repulsa da sociedade ao crime adquire voz mais forte por meio de entidades de prestígio como a Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico‐Facial (ABORL‐CCF), nada mais apropriado do que nossa associação deflagrar ou aderir a uma campanha pública pelo combate à sonegação fiscal.
A segunda reflexão é sobre a natureza ética e humanitária da medicina. É indiscutível a necessidade de exigirmos remuneração justa e digna para todo trabalhador, inclusive o médico. Paralelamente, a crise econômica e de valores morais traz a nós, médicos, outra missão irrecusável: o voluntariado em benefício dos que mais sofrem. Os compatriotas indefesos contam conosco não só para sanar seus problemas de saúde, mas pedem também a nossa corajosa atitude cidadã para, solidariamente, reivindicar boas políticas públicas de saúde e repelir o ódio, o preconceito, a injustiça, a desigualdade social, as ameaças à paz e o descaso com a vida humana.
Respeitando o Estado laico, é importante que tenhamos a consciência serena ao honrar todos os dias o trecho da “Oração do médico”, de Maimônides (1135‐1204): “(…) a servir os ricos e os pobres, os bons e os perversos, amigos e inimigos, e que eu jamais enxergue num paciente algo além de um irmão que sofre”. A ética é a política nobre capaz de nos levar a um futuro melhor.
Conflitos de interesseA autora declara não haver conflitos de interesse.
Como citar este artigo: Balbani AP. Ethics is the best professional policy. Braz J Otorhinolaryngol. 2017;83:370.