Compartilhar
Informação da revista
Vol. 80. Núm. 3.
Páginas 268-269 (Maio 2014)
Compartilhar
Compartilhar
Baixar PDF
Mais opções do artigo
Vol. 80. Núm. 3.
Páginas 268-269 (Maio 2014)
Open Access
Mediastinite: complicação de abscesso parotídeo
Mediastinitis: parotid abscess complication
Visitas
9626
Thiago Pires Britoa, Alexandre Caixeta Guimarãesa, Mariana Mari Oshimaa, Carlos Takahiro Chonea
a Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, SP, Brasil
Este item recebeu

Under a Creative Commons license
Informação do artigo
Texto Completo
Bibliografia
Baixar PDF
Estatísticas
Figuras (1)
Texto Completo

Introdução

Os abscessos cervicais profundos são afecções graves e de múltiplas origens, sendo as mais frequentes a odontogênica e a peritonsilar. com o advento dos antibióticos, a parotidite supurativa com formação de abscesso cervical tornou-se uma infecção bastante incomum.1 a progressão da coleção para outros espaços cervicais ou torácicos pode levar a um quadro dramático de elevada mortalidade, especialmente pelo risco de mediastinite e suas complicações.

Relatamos um raro caso de abscesso parotídeo com dissecção para o mediastino, uma complicação rara de infecção de glândulas salivares.

Apresentação do caso

Paciente do sexo feminino, 38 anos, procurou o pronto-socorro com queixa de febre e dor na topografia da parótida esquerda há uma semana. Nos últimos três dias, evoluíra com dispneia, odinofagia e queda do estado geral. Não havia história de trauma, tratamento dentário ou patologias cervicofaciais prévias.

Ao exame físico, apresentava sinais clínicos de sepse e abaulamento endurecido na topografia da parótida esquerda e níveis cervicais IB, IIa e III ipsilateral. À oroscopia, apresentava trismo moderado, porém, sem alterações na orofaringe.

A tomografia computadorizada (fig.1) no corte axial evidenciou coleção compatível com abscesso acometendo os lobos superficiais e profundos da parótida, estendendo-se para os espaços mastigador e parafaríngeo esquerdos. Nos cortes coronal e sagital, foi visualizada volumosa coleção cervical com extensão inferior para o mediastino, através do espaço vascular-visceral. O corte axial do tórax mostrou coleção envolvendo o mediastino anterior e derrame pleural bilateral. A paciente foi admitida na UtI e submetida à cervicotomia lateral esquerda, mediastinoscopia e toracotomia posterior para drenagem das coleções purulentas. Após o procedimento, instituiu-se antibioticoterapia (ampicilina + sulbactam) e corticoterapia endovenosa. A cultura do abscesso foi positiva para Streptococcus constelattus. Paciente permaneceu internada por 26 dias, apresentando boa evolução.

Figura 1 Tomografia computadorizada mostrando volumoso abscesso acometendo múltiplos espaços cervicais e com extensão para o mediastino anterior.

Discussão

Embora a parotidite seja a mais comum das infecções de glândulas salivares, o abscesso de parótida é uma complicação rara.1 Caso não seja controlada, a infecção pode organizar-se e disseminar pelos espaços profundos cervicais, elevando sua morbimortalidade. Em geral acomete pessoas debilitadas, como portadores de doenças sistêmicas e imunossuprimidos. O principal fator de risco é a desidratação, devido à diminuição da salivação e ao aumento do crescimento bacteriano.

O Staphylococcus aureus é o agente mais comum nas infecções supurativas da parótida, chegando a quase 80% dos casos.2 A infecção por múltiplos micro-organismos também é frequente e potencializa a infecção.3 A bactéria do caso apresentado foi o Streptococcus constellatus, estreptococo presente na flora da cavidade oral.

A invasão infecciosa dos espaços cervicais profundos pode se disseminar através das fáscias cervicais e originar abscessos com potencial de extensão para o mediastino. A mediastinite necrotizante descendente é rara, sendo uma das formas mais letais da doença. Clinicamente, caracteriza-se pelo aparecimento de manifestações toxêmicas e sintomas torácicos, como dispneia ou dor torácica, em paciente com infecção cervical, sendo sua mortalidade estimada em 40%.3,4

A mediastinite secundária a abscesso parotídeo é um evento raro. Na revisão da literatura científica realizada (MedlINe e lIlacs), foi encontrado apenas um relato de caso de mediastinite necrotizante secundário à parotidite supurativa aguda, em um hospital geral de toronto, no canadá.5

No presente caso clínico, o acometimento infeccioso do lobo profundo da parótida provavelmente estendeu-se através do túnel estilomandibular até o espaço parafaríngeo. A partir deste espaço, que é confluente a diversos outros espaços cervicais, atingiu a bainha carotídea e propagou-se caudalmente ao mediastino superior.

O tratamento clássico da mediastinite necrotizante descendente é baseado na drenagem cirúrgica ampla associada à anti-bioticoterapia de largo espectro.

Comentários finais

Embora o abscesso de parótida seja incomum, a possibilidade de propagação dessa infecção para o mediastino reforça a necessidade do diagnóstico e tratamento precoces.

Conflitos de interesse

Os autores declaram não haver conflitos de interesse.


Recebido em 24 de novembro de 2012;

aceito em 29 de março de 2013

DOI se refere ao artigo: http://dx.doi.org/10.1016/j.bjorl.2013.03.001

Como citar este artigo: Brito TP, Guimarães AC, Oshima MM, Chone CT. Mediastinitis: parotid abscess complication. Braz J Otorhinolaryngol. 2014;80:268-9

* Autor para correspondência.

E-mail: e-mail: thpbrito@gmail.com (T.P. Brito).

Bibliografia
[1]
Parotid abscess in singapore. Singapore Med J. 2005;46:553-6.
[2]
Acute suppurativ parotitis: a study of 161 cases. Ann surg. 1962;156:251-7.
[3]
Tratamento conservador de mediastinite necrotizante descendente. J Pneumol. 1998;24:167-70.
[4]
Descending necrotizing mediastinitis. Surg Gynecol Obstet. 1983;157:545-52.
[5]
Fatal necrotizing mediastinitis secondary to acute suppurative parotitis. J Otolaryngol. 1991;20:54-6.
Idiomas
Brazilian Journal of Otorhinolaryngology
Opções de artigo
Ferramentas
en pt
Announcement Nota importante
Articles submitted as of May 1, 2022, which are accepted for publication will be subject to a fee (Article Publishing Charge, APC) payment by the author or research funder to cover the costs associated with publication. By submitting the manuscript to this journal, the authors agree to these terms. All manuscripts must be submitted in English.. Os artigos submetidos a partir de 1º de maio de 2022, que forem aceitos para publicação estarão sujeitos a uma taxa (Article Publishing Charge, APC) a ser paga pelo autor para cobrir os custos associados à publicação. Ao submeterem o manuscrito a esta revista, os autores concordam com esses termos. Todos os manuscritos devem ser submetidos em inglês.