Introdução
Neurofibromas são tumores benignos originados a partir da bainha de nervos periféricos que raramente acometem a região de cabeça e pescoço,1 sendo constituídos por células de Schwann, células perineurais e quantidades variadas de colágeno maduro.2 Classificam-se em solitários, quando não associados a nenhuma síndrome, ou múltiplos, quando associados à Síndrome Autossômica Dominante Neurofibromatose ou à Síndrome Neoplásica Multipla do tipo III3 e, ainda, em mixomatosos (sólidos, centrais, difusos) ou plexiformes (periféricos).4 Quando não associados a síndromes, tornam-se raros na cavidade oral, sendo presentes nesta região, mais comumente, na língua.
Relato de caso
Paciente do sexo feminino, 54 anos de idade, melanoderma, sem alterações sistêmicas, foi encaminhada para avaliação de lesão intraoral assintomática nodular pedunculada, coloração semelhante à mucosa, superfície rugosa, consistência fibrosa, localizada em palato, medindo aproximadamente 8 mm (fig.1A), observada há três meses. Ao exame físico extraoral não se observou estigmas característicos de neurofibromatose, inclusive em tórax. Realizou-se biópsia excisional, e a análise anatomopatológica revelou fragmentos de mucosa revestida por epitélio pavimentoso estratificado ora orto, ora paraceratinizado, exibindo acantose. Na lâmina própria observou-se proliferação de células fusiformes, por vezes, exibindo núcleos ondulados em meio à intensa deposição de fibras colágenas dispostas em feixes de variados tamanhos, além de mastócitos (fig. 1B-C). O laudo foi sugestivo de neurofibroma e análise imuno-histoquímica demonstrou forte marcação para a proteína S-100 (fig. 1D). Atualmente, a paciente se encontra sob acompanhamento clínico, não sendo evidenciados sinais de recorrência (fig. 1E).
Figura 1. Neurofibroma isolado em palato. A, Aspecto clínico inicial da lesão. B, Fotomicrografia mostrando a presença de um tumor benigno não encapsulado, composto por proliferação de células fusiformes com núcleo ondulado. C, Fotomicrografia evidenciando proliferação de células fusiformes em meio a um estroma mixomatoso, por vezes microvacuolado (HE, 100×). D, Forte marcação imuno-histoquímica das células fusiformes para a proteína S-100 (200X). E, Exame extraoral após seis meses evidenciando completa cicatrização.
Discussão
Acredita-se que a frequência de neurofibromas solitários orais não associados à neurofibromatose-1 seja baixa,4 com poucos casos em palato,2,3 a despeito da grande ocorrência em língua.1-4 Apresentam-se como tumores de crescimento lento, nodulares, sésseis e móveis,3 sendo geralmente indolores, mas dor ou parestesia podem ocorrer devido à compressão nervosa. Cherrick e Eversole2 observaram predileção pelo sexo feminino. Chen e Miller5 relataram que os neurofibromas de boca acometem pessoas de nove a 72 anos de idade. Embora algumas lesões necessitem de exames de imagem para que se determine a sua extensão, a análise histológica convencional é conclusiva quando da observação de células de Schwann proliferadas, células perineurais e células fibroblásticas em meio a um estroma, por vezes mixomatoso e microvacuolado.4 A distinção entre os neurofibromas associados à neurofibromatose e os não associados é que este último apresenta clara distinção entre a margem lesional e o tecido adjacente, embora não encapsulado.1 O tratamento é cirúrgico, apresentando riscos de recorrência ou transformação maligna desconhecidos, tornando seu prognóstico excelente.4
Considerações finais
Visto que neurofibromas isolados em cavidade oral possuem ocorrência incomum, reforça-se a importância de um exame clínico minucioso pelos profissionais que lidam com a cavidade bucal, tais como estomatologistas, cirurgiões buco-maxilo-faciais, cirurgiões de cabeça e pescoço, otorrinolaringologistas, bem como dermatologistas, que devem incluir o neurofibroma não associado à neurofibromatose-1 no diagnóstico diferencial de lesões hiperplásicas da cavidade oral, embora raramente descrito em tal localização.
Conflitos de interesse
Os autores declaram não haver conflitos de interesse.
Recebido em 25 de agosto de 2012;
aceito em 13 de janeiro de 2013
☆ Como citar este artigo: Costa FWG, Carvalho FSR, Sousa CF, Cavalcante RB, Pereira KMA. Solitary neurofibroma of the palate. Braz J Otorhinolaryngol. 2014;80:184-5.
☆☆ Trabalho realizado na Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, CE, Brasil.
DOI se refere ao artigo: 10.5935/1808-8694.20140038
* Autor para correspondência.
E-mail: fwildson@yahoo.com.br (F.W.G. Costa).