Pagina nueva 1O escritor norte-americano Ernest Hemingway, 1898-1961, assim se expressou sobre a arte de escrever: " Somos aprendizes de uma arte na qual ninguém se torna mestre." A frase se aplica igualmente aos escritores de textos científicos. Somos aprendizes e autodidatas nessa difícil tarefa de elaborar redação científica de qualidade.
A produção de um bom texto é consequência de árduo trabalho de redação. Essa é a opinião de escritores experientes, que relegam outras influências, como a inspiração. Mark Twain, 1835-1910, também escritor norte-americano, proclamou essa convicção ao divulgar as suas três regras para bem escrever: "A primeira é revisar, a segunda, revisar; e a terceira, revisar."
O que um editor de periódico científico espera de um texto submetido para publicação? Em primeiro lugar, que provenha de pesquisa metodologicamente correta, sobre tema relevante e adequado para a revista. Ficará ainda mais satisfeito se o texto estiver de acordo com as normas cultas do idioma em que foi escrito e se contiver características que o situem como produção de qualidade. Entre essas características estão: a clareza, para o leitor entender o que lê; a concisão, para não desperdiçar o tempo do mesmo e o espaço no periódico; a exatidão, para não enganar ou embaraçar o leitor; a elegância, para atrair e manter a atenção do leitor, e mesmo encantá-lo; e a sequência lógica na apresentação de fatos e argumentos, para assegurar a continuidade de leitura.1
A sequência de apresentação dos resultados de uma pesquisa é hoje padronizada nos principais periódicos científicos da área da saúde. Quatro seções compõem o artigo científico original: introdução, método, resultados e discussão. Tal estrutura, dita IMRD ou IMReD, começou a ser empregada na década de 1940 e foi progressivamente adotada, sendo o único padrão utilizado a partir dos anos 80.2
Cada seção do artigo tem sua especificidade, a qual deve ser respeitada. Na introdução, o autor justifica a pesquisa e informa o objetivo do trabalho. Na seção de método, esclarece como o estudo foi delineado. Nos resultados, mostra os achados da investigação e, se a pesquisa for quantitativa, acrescenta a respectiva análise estatística. Na seção de discussão, o autor defende a conclusão de sua pesquisa, comenta os próprios resultados e os compara com achados relevantes de outros estudos.
A estrutura IMRD não é mera questão estilística. Ela expressa a própria lógica do raciocínio científico. O escritor deve dominar essa lógica, bem como utilizar diretrizes para relato de pesquisas. Existem as diretrizes gerais, como as normas de Vancouver e as instruções para autores dos periódicos científicos, e aquelas específicas, disponíveis para praticamente todos os tipos de estudo. A primeira diretriz específica que obteve amplo consenso foi o Consort, publicado em 1996, para o relato de ensaios clínicos. Ela serviu de estímulo e modelo para a confecção de numerosas outras, entre as quais, o Strobe, para estudos observacionais, e o Prisma, para revisões sistemáticas. Essas diretrizes estão compiladas em um único endereço eletrônico.3
O uso de diretrizes, como as mencionadas, auxiliará o autor a não omitir informações relevantes sobre sua pesquisa. Com esse cuidado, os relatos tendem a se tornar mais transparentes. Como resultado, todos se beneficiarão - editores, revisores, leitores e, principalmente, o próprio autor, pois ele aumentará as possibilidades de publicar seu artigo em periódico científico.
Conflitos de interesse
O autor declara não haver conflitos de interesse.
DOI se refere ao artigo: http://dx.doi.org/10.1016/j.bjorl.2014.07.004
☆ Como citar este artigo: Pereira MG. The writing of scientific articles. Braz J Otorhinolaryngol. 2014;80:371-2.
E-mail:mauriciogpereira@gmail.com (M.G. Pereira).